Leonardo Boff

A fome como desafio ético e espiritual

Esse desenvolvimento possui um eminente grau de humanismo e de uma decidida natureza ética. Daí o título de sua principal obra se chamar “Desenvolvimento como liberdade”. A liberdade aqui é entendida como liberdade “para” ter acesso ao alimento, à saúde, à educação, a um ambiente ecologicamente saudável e à participação na vida social e a espaços de convivência e de lazer.

A Teologia da Libertação e a Igreja que lhe subjaz nasceu a partir de um acurado estudo da pobreza. Pobreza é lida como opressão. Seu oposto não é a riqueza, mas a justiça social e a libertação.

Distinguiamos três tipos de pobreza. A primeira é aquela dos que não têm acesso à cesta básica e aos serviços sanitáros mínimos. A estratégida tradicional era fazer com que os que têm, ajudem aqueles que não têm. Daí nasceu uma vasta rede de assistencialismo e paternalismo. Ajuda pontualmente os pobres mas os mantém na dependêmcia dos outros.

A segunda leitura do pobres afirmava que o pobre tem, possui inteligência e capacidade de professionalizar-se. Com isso é inserido no mercado de trabalho e arranja sua vida. Essa estratégia politicamente não se dá conta do caráter conflitivo da relação social, mantendo o saído da pobreza dentro do sistema que continua produzindo pobres. Reforça-o inconscientemente.

A Terceira interpretação parte de que o pobre tem e quando conscientizado dos mecanismos que o fazem pobre (são empobrecidos e oprimidos), se organizam, projetam um sonho novo de sociedade mais justa e igualitária, transformam-se numa força histórica, capaz de, junto com outros, dar um novo rumo à sociedade. Desta percpectiva nasceram os princpais movimentos sociais, sindicais e outros grupos conscientizados da sociedade e das igrejas. Destes podem-se esperar transformações sociais.

Por fim, para uma percepção da fé bíblica, o pobre sempre será a imagem desfigurada de Deus, a pre-sença do pobre de Nazaré, crucificado que deve ser baixado da cruz. E por fim, no entardecer da história universal, os pobres serão os juizes de todos, porque, famintos, nus e aprisionados, não foram reconhecidos como a presença anônima do próprio Juiz Supremo face ao qual, um dia, todos compareceremos.

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