Leonardo Boff

A tolice das análises econômicas atuais (Final)

Tanto a Carta da Terra quanto a encíclica do Papa Francisco Laudato Si: como cuidar da Casa Comum alertam sobre os riscos que a vida corre sobre o planeta. A Carta da Terra (grupo animado por M. Gorbachev, do qual tenho participado) é contundente: ou formamos uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscamos a nossa destruição e a da diversidade da vida”.
Nos debates sobre economia, em quase todas as instâncias, os riscos e o fator ecológico sequer são nomeados. A ecologia não existe, mesmo nas declarações do PT, nas quais a palavra ecologia sequer aparece. E assim, gaiamente, poderemos trilhar um caminho sem retorno, por igorância, irresponsabilidade e cegueira produzida pela volúpia da acumulação de bens materiais.
Donald Trump declarou que o aquecimento global é um embuste e que cancelará o acordo de Paris, já assinado por Obama. Paul Krugman, Nobel de economia, já alertou que tal decisão poderá significar um grave dano aos USA e ao planeta inteiro.
Conclusão: ou incorporamos o dado ecológico em tudo o que fizermos, ou então nosso futuro não estará garantido. A estupidez da economia só nos cega e nos prejudica.
Mas esse dado científico, fruto da razão instrumental analítica, não é suficiente, pois ela friamente analisa e calcula e entende o ser humano fora e acima da natureza que pode explorá-la a seu bel-prazer. Temos que completá-la com o outro fator, o resgate da razão sensível, a mais ancestral em nós. Nela reside a sensibilidade, o mundo dos valores, a dimensão ética e espiritual. Ai residem as motivações para cuidarmos da Terra e nos engajarmos por um novo tipo de relação amigável com a natureza, sentindo-nos parte dela e seus cuidadores, reconhecendo o valor intrínseco de cada ser, e inventando outra forma de atender nossas necessidades e o consumo com uma sobriedade compartida e solidária.
Temos que articular os dois fatores: o ecológico (objetivo) e o sensível (subjetivo): caso contrário dificilmente escaparecemos, mais cedo ou mais tarde, da ameaça de um colapso do sistema-vida.

Deixe seu comentário