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Amar Laguna

O JL selecionou alguns nomes de lagunenses e lagunistas que sabem fazer a hora e não esperam acontecer, colocando “a mão na massa” e doando aos mais necessitados, seu tempo, recursos e esforços que de alguma forma, ajudam a transformar a nossa cidade.

Qualificar o tempo livre de crianças e adolescentes de família de baixa renda e de alguma forma colaborar no crescimento deles é um dos objetivos do projeto Acustra, Associação Cultural, Social e Terapêutica da Região da AMUREL e Oásis do Bem. Uma das lideranças do projeto, Andréa Pacheco Luckina apresenta aos leitores um pouco mais sobre as ações do trabalho social que auxilia cerca de 75 crianças e adolescentes carentes em nossa cidade. Em uma tarde qualquer de trabalho na Acustra, durante uma reunião, o administrativo acusou a falta frequente de duas crianças. Preocupadas, as assistentes sociais foram in loco saber o que se passava. Ao chegar na casa, descobriram que o pai, pedreiro, havia sido acusado de estupro. Condenado, tinha deixado de receber seus rendimentos e a mãe, perplexa com a situação, caiu em uma forte depressão. Sobrou aos filhos de 8 e 12 anos, “administrarem” a casa e o rumo de suas vidas. São histórias assim, que o grupo se depara diariamente e tenta, de alguma forma, amenizar o fardo na vida de crianças que serão o futuro de nossa sociedade. Praticante da doutrina espírita, formada em Serviço Social, Contabilidade e Terapia de Florais, Andréa recorda a forma que a Acustra começou: “Sempre soube que meu destino seria na área assistencial, até que um dia, através de um sonho, me vi auxiliando algumas pessoas. Coincidentemente, tempos depois, me deparei em uma situação a qual tive que ir até o presídio. Lá, tive a resposta para as minhas perguntas. Começava ali o projeto”. Desde então, Andréa montou sua equipe e iniciou sua atividade junto aos presos, dando um suporte psicológico e espiritual: “A família que deixaram lá fora era quase que unanimidade nas conversas e o apelo para que de alguma forma as esposas e filhos fossem cuidados e auxiliados foi o que fez nascer o Oásis do Bem, criado em 2011”. Com sede no Centro Administrativo Hidemburgo Moreira, a ação que atualmente conta com diversas oficinas, desenvolvidas por voluntários, muito além de ocuparem o tempo dos participantes, estimulam na formação do caráter e dos valores: “ Buscamos mostrar a importância do dividir, de colocar amor no que se faz e cabe ao papel do coordenador da oficina, valorizar o resultado apresentado por cada uma deles, para que as crianças se sintam úteis e capazes”. Entre as aulas, destacam-se as de informática, culinária, reforço escolar, pintura em tecido, dança e artesanato: “O perfil de nossos professores são os mais diversos. E aproveito a oportunidade para deixar aqui o apelo, já que toda ajuda é bem vinda. Todos sabemos fazer alguma coisa e dividir este dom com o próximo só tende a nos fazer melhores. Nosso trabalho está de portas abertas”. Casada com Marcelo, mãe de Renata e Marcelo André, nas poucas horas que lhe restam de folga, Andréa prefere estar na companhia da família: “Gostamos de estar todos juntos, seja praticando um esporte ao ar livre, na praia, passeando, prezo muito pelo meu lado mãe, e creio que ainda que a dupla jornada seja algo tão corriqueiro nos dias de hoje, é preciso salientar que cabe a quem deu o dom da vida, não apenas gerar, mas criar o filho. Em meu convívio diário com essa desestrutura social, vejo o quanto um lar estruturado faz a diferença na criação do indivíduo”.

Determinadas e incansáveis voluntárias da Rede Feminina de Combate ao Câncer de nossa cidade comprovam o quanto se doar a uma causa faz bem. A entidade, que teve seu nome consolidado com Emeri Massih, hoje tem a frente da presidência Andréa Cascaes Lopes, que há cerca de dois anos e meio lidera as ações da importante entidade.
Mãe de Renan e Renata, casada com o lagunense Ricardo, o voluntariado era desejo antigo na vida da orleanense: “Comecei quando ainda morava em Tubarão, auxiliando em uma creche, uma vez por semana. Ao me mudar para Laguna, vivenciando a síndrome do ninho vazio, com os filhos criados, já morando em suas próprias casas, senti ainda mais a necessidade de ocupar meu tempo fazendo o bem para o próximo”, recorda.
Ao manifestar o desejo de ajudar, Andréa foi logo incentivada pela amiga Katia Kfouri, que já era voluntária da rede: “Ela me levou para participar de uma primeira reunião e dali não mais saí. Comecei a me envolver, fiquei como vice da então presidente Toninha Casagrande, que se afastou do cargo. Me vi no desafio de junto com as demais colegas, dar continuidade ao trabalho desenvolvido até aquele momento”.
Avó coruja de Samuel, sua rotina é dividida entre a família e o trabalho voluntário: “Dedico no mínimo quatro horas do meu dia à rede. No período da manhã, procuro estar na sede, auxiliando no administrativo e recebendo os pacientes naquilo que é possível. A tarde é um momento destinado às visitas e demais auxílios não apenas aos doentes, mas os seus familiares, que muitas vezes carecem de uma palavra ou ombro amigo”, explica a presidente, que junto a toda equipe, também atua na venda de doces em festas e eventos.
Como destaque da atual gestão, ela cita a venda das camisetas do tema “Outubro Rosa”, que caiu no gosto dos lagunenses: “Começamos com um número simbólico de 500 peças. Com o passar dos dias a procura foi tamanha que fecharemos o mês com 1.700 camisetas vendidas, além da oferta de outros acessórios, como leques, lenços, sombrinhas e bonés”.
Atualmente com um grupo de incansáveis 25 voluntárias, a rede tem papel fundamental na vida de muitos pacientes que lutam contra o câncer em nossa cidade: “Costumo dizer que o tratamento do câncer é para ontem. Quanto mais pudermos auxiliar no encaminhamento dos exames através de convênios, arcando com um medicamento ou na doação de uma cesta básica, estaremos de alguma forma amenizando um momento tão delicado na vida daqueles que nos procuram”, finaliza.

Se a vida de Sonia Zanini fosse resumida através de uma frase, certamente poderia ser a de Antoine De Saint Exupery, onde diz que: “A verdadeira solidariedade começa onde não se espera nada em troca”. E é assim, de forma sutil, por vezes silenciosa, que a criciumense faz o elo de ligação entre os mais carentes e os que podem e querem ajudar, comprovando que para alcançar resultados dentro do voluntariado é necessário apenas usar a força de vontade. Filha de Maria (Carlessi) e de Avelino Durval Régis de Souza, com o primário e o secundário concluídos no Colégio Michel, da capital do carvão, formou-se em Farmácia e Bioquímica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pós-graduada em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública, também do Rio Grande do Sul. Em 1979 casou-se com Jorge Tadeu Zanini, com quem teve três filhas: Gabriela, Letícia e Maria Luiza. Começou sua vida profissional no Laboratório Bioclínico Criciúma, Unidade Sanitária e na Drogaria e Farmácia Catarinense. Seu espírito voluntário ali já se fez presente, sendo uma das fundadoras da Escola Especial Diomício Freitas. Em 82, veio para Laguna com o esposo, o médico, dr. Jorge Zanini e as duas primeiras filhas ainda pequenas. Aqui desempenhou a função de bioquímica no laboratório da Unidade Sanitária do Centro e depois coordenou a Vigilância Epidemiológica na mesma unidade. Mais tarde foi farmacêutica da Farmácia Econômica. Passados três anos, durante uma visita a Irmã Agenora, responsável pelo Asilo Santa Isabel de nossa cidade, Sonia sentiu-se comovida pelo desabafo do qual foi ouvinte: “A Irmã estava muito triste e preocupada, pois não teria mais condições de pagar o médico que realizava as consultas dos internos. Na época, lembro que cheguei em casa e conversei com meu saudoso marido, e ele se prontificou a realizar as consultas gratuitamente”. A partir daquele gesto, era dado início a uma vida inteira dedicada ao próximo: “Me comovi com a situação e comecei a ajudar no Asilo e paralelamente também na Pastoral da Criança, cuja Irmã Agenora foi precursora em Laguna”.
Formada em Farmácia e Bioquimíca, ela orgulha-se pelo vínculo que desenvolveu com o nosso Hospital no decorrer dos anos: “Em parceria com mulheres de grande coração e disposição e funcionários do Hospital, criamos em 2005 a Associação Mamãe Bebê, que visa ajudar a melhorar a área física da Maternidade Ludinira da Fonseca Carneiro. Desde então, com as ações do grupo, conseguimos comprar novos equipamentos, roupas de cama, roupas para o centro obstétrico, além do oferecimento de novos serviços, como o teste da orelhinha, do olhinho, a sala de vacinação, entre tantos outros. Tudo isto com o intuito de dar um atendimento de qualidade às gestantes e bebês e com isto humanizar ainda mais nossa maternidade”. Quando questionada sobre um momento marcante durante toda esta trajetória de verdadeira doação, Sonia aponta um especial: “Quando reabrimos a maternidade e nasceram os primeiros bebês foi uma emoção muito grande. Poder ajudar o lagunense a nascer em sua terra natal foi e continua sendo maravilhoso”.
E o povo lagunense também usa da solidariedade para causas idôneas. É o que ela afirma: “Quando nossa gente sente que o trabalho é de credibilidade todos ajudam. E aí posso falar de cadeira, seja pela Associação Mamãe Bebê, a Casa da Gente, da Irmã Maria, são ações as quais tivemos ajuda providencial de todos que batemos à porta”.
Tamanha empatia com Laguna, ela garante ter surgido e se confirmado com o decorrer dos anos: “Esta cidade representa 30 anos de uma vida vivida nela. Uma parte da juventude, a família que aqui formei, as amizades verdadeiras que aqui encontrei, as coisas boas que vivi, que procurei fazer, as não tão boas que também aconteceram e as outras tantas boas que ainda estão por vir. Tudo isso foi graças a Laguna que me acolheu de braços tão abertos quanto Nossa Senhora da Glória. Sou grata por tudo”.

Um coração acolhedor, um espírito humanitário e a luta incessante por fazer o bem. Poderíamos estar falando de tantas mães espelhadas por este mundo afora. Mas este é um breve resumo da personalidade e da trajetória de vida da Irmã Maria Alves dos Santos.
Aos 72 anos, ela que é formada em Pedagogia, acredita ter nascido com espírito missionário: “Aos 23 anos, antes de ingressar na vida religiosa, me mudei para o Amazonas. Lá, por seis anos, aprendi a língua indígena e alfabetizei muitas crianças”, recorda a irmã, que retornou a Santa Catarina após receber a notícia da doença grave de um irmão: “Voltei porque queria dar minha parcela de contribuição a este momento tão delicado. E assim fiz, ajudando em tudo que foi possível”. Passado algum tempo, a então jovem viu que era hora de procurar por uma Congregação, para dar continuidade as suas ações: “Como freira, poderia auxiliar ainda mais e ultrapassar barreiras. Ingressei na Divina Providência e um novo universo se abriu para mim”. No decorrer da caminhada, a Irmã Maria ajudou e catequizou jovens e crianças: “Já trabalhei em colégios de Florianópolis e Tubarão e paralelo ao serviço no educandário, ajudava crianças que viviam nas ruas, tentando ofertar uma vida mais digna e que era de direito”. A joinvilense carregava uma inquietude no peito, na certeza de que poderia desbravar e ir muito além. E este além tinha nome: África. Lá, Irmã Maria passou por dez anos, oportunidade a qual auxiliou pessoas que se encontravam sem um lar e amor: “As histórias de vida são impactantes. Convivi com órfãos, com pessoas que viviam na miséria, sem ter o que esperar da vida. Tenho certeza que minha ajuda não foi em vão. Que cada atendimento que prestei, cada alimento que fiz, conseguiu acalentar o coração de um ser humano”, recorda. E foi com o retorno ao Brasil, mais precisamente a Florianópolis, em 2010, que irmã Maria teria seu destino entrelaçado a Laguna: “A Congregação me sugeriu que viesse para Laguna, no Colégio
Stella Maris. De pronto aceitei, mas pedi a chance de encarar um novo desafio, com uma comunidade carente da cidade. Ao receber o sinal verde da direção, fui em busca de quem precisasse de minha ajuda”. E este povo a esperava: “Me falaram de um grupo sem terra, que vivia na Barbacena. Lembro que peguei o ônibus com destino ao Perrixil e nem sabia onde deveria parar. Fui perguntando, pedindo informações e cheguei até eles. A energia e a certeza de que tinha chego ao lugar certo aconteceu desde o primeiro instante”. A locação de um pequeno casebre onde começou a trabalhar com as crianças, foi logo transformado na aquisição do próprio terreno: “Ao receber a visita de damas da caridade, elas se comoveram e disseram que me ajudariam a adquirir um pedacinho de chão. E assim fizeram. Tempos depois aparecerem com o dinheiro. Foi um momento de imensa alegria”. Surgia naquele instante a “Casa da Gente”, que junto ao esforço de inúmeras pessoas da comunidade fizeram um grande mutirão para construção de um prédio: “Fiquei impressionada com a solidariedade dos lagunenses. Eram doações de materiais de construção, depósitos na conta da Creche, enfim, todos de alguma forma se fizeram presentes e isto só me impulsionou e me deu forças para chegar onde estamos”.
Atendendo crianças e adolescentes, o espaço busca suprir o tempo vago desta garotada, para que possam continuar trilhando o caminho do bem. Com a ajuda de inúmeros voluntários, que silenciosamente, no decorrer do dia a dia fazem suas doações, ela garante que esta verdadeira “ponte” de amor a faz uma mulher e mãe realizada: “Vim neste mundo com missão de ajudar os necessitados, os corações aflitos e todos que estiverem em necessidade. E esta força de vontade só é possível graças a almas generosas, que aliadas as minhas mãos, ajudam na execução dos projetos, que são revertidos ao bem de nossa comunidade”.

A barba branca e o sorriso angelical de José Alves Fernandes faz até o mais incrédulo acreditar na magia de Natal. Também pudera! Esbanjando simpatia, ele ganha o coração de todos, seja através das oportunidades em que se caracteriza como o bom velhinho e visita os lares de inúmeros lagunense na noite de Natal ou na companhia de um grupo de amigos, preparando um almoço para os idosos do Asilo Santa Isabel.
Sobre a forma que começou a “incorporar” o papel de Papai Noel, ele recorda: “Há mais de 43 anos, o “seo” Valdemar Antunes, que na época era quem se caracterizava me chamou para uma conversa séria. A doença estava o debilitando, mas ele queria dar seguimento a esta tradição natalina. Foi então que recebi o convite de “tomar” seu posto. E a resposta, claro, foi positiva”. De lá para cá, muito tempo se passou, mas “Mala” como carinhosamente é chamado, ainda usou por longos anos a bengala que lhe foi dada por “seo” Valdemar. A roupa, depois de muito tempo de uso, teve que ser aposentada, mas ainda é guardada como lembrança.
Para o nosso “Papai Noel”, o Natal de hoje muito pouco lembra o do então menino José: “Em meu tempo não se tinha tanto consumo. Comemorávamos muito mais o nascimento de Cristo. A figura do Noel era lembrada apenas na hora de deixar o pasto das renas. Acho que é essencial cultivar este sentimento de fraternidade, para que o verdadeiro Natal continue vivo na alma das pessoas”.
Mas não pense que Mala passa apenas por bons momentos vestido de bom velhinho. O lagunense guarda na memória muita emoção e tristeza: “Quantas vezes pego uma criança no colo que pede um emprego para o pai. Outras, com poucas condições financeiras, que sonham com uma bicicleta. Sei que dificilmente estes “presentes” serão entregues dia 25 e imagino a decepção desses meninos e meninas”.
Mas não é só para as crianças que José Fernandes gosta de dedicar seu tempo. Durante os outros meses do ano, ele faz questão de doar-se ao trabalho voluntário, distribuindo comida a mendigos, seja nas noites frias de inverno ou nas madrugadas de verão: “Gosto muito de ter esse contato com os mais necessitados. Quando vou ao Asilo Santa Isabel, não vejo a hora passar, seja ouvindo os velhinhos, cozinhando na companhia do meu grupo de voluntários ou ainda ajudando no que for preciso”.
Dividindo seu tempo entre o centro da cidade e comunidades como Casqueiro e Vila Vitória, o Papai Noel lagunense gostaria, se possível, de dar um presente muito especial à Laguna: “Queria ter o poder de dar aos nossos habitantes uma vida repleta de igualdade, justiça e paz. Sempre com Jesus no coração”.

Aos 39 anos, Arnaldo Russo é doutor em Oceonagrofia Biológica, mestre em Ecologia e graduado em Biologia. Professor universitário e empresário, proprietário da livraria recém inaugurada na cidade, o filho de dona Heleine e de “seo” Arnaldo Francisco trabalha há 12 anos no Instituto Ambiental Boto Flipper: “Vim para Laguna por intermédio de um amigo e o instituto foi uma das razões que me motivou a fincar raízes na cidade. Me identifiquei muito com a terra de Anita desde o primeiro contato, suas belezas naturais e tudo que proporciona aos que aqui chegam”.
O interesse por tudo que diz respeito ao meio ambiente começou há bastante tempo: “Eu ainda morava em Itajaí e comecei a participar de algumas ONGs que foram criadas por lá. Paralelamente, o universo do surf também me proporcionou um contato muito forte com a preservação”, explica.
Atualmente, Arnaldo divide seu tempo entre sua livraria e os trabalhos de educação ambiental: “Procuro sempre destacar ao público ouvinte, seja ele crianças das escolas da cidade que visitamos ou de outros segmentos, a importância da preservação da natureza e do cuidado com os nossos botos”.
Paralelo as causas com o meio ambiente, ele ainda busca colaborar na diversificação da agenda cultural da cidade: “Diante da escassez de atrações culturais e por acreditar que posso colaborar e fazer minha parte, é que decidi investir também no Centro Histórico, montando um espaço diferenciado e oferecendo algo de novo para os lagunenses e turistas, trazendo música e cinema para praça do Museu de forma gratuita e ao acesso de todos”.

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