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Centenário de Dom Gregório Warmeling

Cidade lembra o legado e os seus 100 anos

Nascido em São Ludgero, em 17 de abril de 1918, portanto, vivo fosse, o sempre lembrado Dom Gregório Warmeling estaria completando 100 anos.
Filho de Rosa (Wessler) e de Henrique Warmeling, em 1929, iniciou os estudos no Seminário de Azambuja, em Brusque, sendo ordenado presbítero em 5 de setembro de 1943, indo em seguida para Itajai, atuando como vigário paroquial do Santíssimo Sacramento, até 12 de fevereiro de 1944.
Nos três anos seguintes, dedicou-os à formação no Seminário de Azambuja, em Brusque, de 1944 a 1946 como professor, em 1944 prefeito de disciplina e nos anos de 1945 e 1946 sendo diretor espiritual. Ao mesmo tempo, Pe. Gregório foi mestre de canto na Scholla musical do Seminário: era regente e tinha habilidade para arranjos e composições musicais. Criou a Banda de Música em Azambuja.
O início de 1947 foi tumultuado naquela instituição. Por conflitos na linha de formação, falta de unidade no corpo docente, o arcebispo Dom Joaquim transferiu, num decreto só, o reitor Cônego Bernardo Peters, os diretores espirituais Pe. Gregório e Pe. José Locks e o professor Pe. Wilson Laus Schmidt.
Em 18 de janeiro de 1947 foi nomeado vigário paroquial de São José, em Criciúma, acompanhando o pároco, Pe. Wilson Laus Schmidt.
Em 25 de janeiro de 1948 Pe. Gregório Warmeling recebeu a provisão de pároco de Santo Antônio dos Anjos, de nossa cidade, onde, por seus dotes humanos e sacerdotais, tornou-se um verdadeiro mito. No plano administrativo foi o responsável pela construção da imagem de Nossa Senhora da Glória no Morro Pau-do-Sinal, hoje Morro da Glória. O monumento tem 14 metros de altura e foi inaugurado em 1953. É local de turismo e devoção. Durante muitos anos Laguna viveu da lembrança desse grande pároco, de sua oratória, zelo e simpatia. Como que recordava as glórias passadas da comunidade lagunense. Dom Gregório iniciou algumas inovações para a época: a missa das crianças, pregações não feitas do púlpito, mas em meio ao povo e com uma linguagem de maior compreensão. Sentava na praça da Matriz para conversar com o povo, sendo inteiramente disponível. Expressava sua iniciativa dizendo que “procurou sentir a embocadura e o linguajar do povo”. Aprendeu do povo humilde a sabedoria de Deus. Sobre ele, os paroquianos da época falavam: “Foi um homem que levou a sacristia da igreja para a praça”. E é inegável a influência que Laguna exerceu sobre sua vida e conduta. Dom Gregorio gostava tanto da paróquia e da cidade que chegou a pensar que nunca mais sairia daqui. Mas Deus tinha outros planos para sua vida. Lembrando que aqui atuou até 29 de junho de 1957, quando foi ordenado Bispo de Joinville, pelo Bispo Dom Joaquim Domingues de Oliveira e com co-ordenantes Dom Anselmo Pietrulla, OFM e Dom Inácio Krause, CM.
Padre Lenoir Steiner Becker
O pároco atual de Santo Antônio dos Anjos, Padre Leonoir Steiner Becker, conheceu Dom Gregório antes de ser sacerdote e já quando estudava para tal, “sendo um homem dos mais inteligentes, de coragem, dedicado e decidido. Tinha uma personalidade forte. Defendia o que acreditava ser o certo, o correto”.
A Cruz de quem vive o Cristo
Dom Gregório foi um homem amado pelo povo cristão e, certamente, muito criticado pelas elites e certas esferas religiosas e clericais. Sua atitude aberta, sua palavra nem sempre refinada e que lembrava um colono de São Ludgero, foram motivos de incompreensão e geraram calúnias diabólicas.
Em plena ditadura, Joinville recebeu a visita do presidente da República, o general Geisel, que iria à Catedral para participar da celebração da santa Missa. O prefeito era Pedro Ivo Campos. Dom Gregório determinara que a leitura bíblica seria feita pelo prefeito. Um assessor militar objetou: “O prefeito é do MDB. Não pode falar!” Sem pestanejar, Dom Gregório retrucou, direto: “No País, manda o presidente. Aqui na Igreja, mando eu! O prefeito vai ler o texto!” e Pedro Ivo leu.
O que mais lhe doeu foi o presente que recebeu do Vaticano às vésperas de seu Jubileu de Prata episcopal, em 1984: carta do Prefeito da Sagrada Congregação dos Bispos, Cardeal Sebastião Baggio pedia sua renúncia ao ministério episcopal, sem nem oferecer-lhe o direito de defesa. Motivo: suas liberdades com religiosas que com ele vinham se aconselhar. A calúnia vinha de dentro da Igreja, por isso muito mais dolorosa. E, com certeza, até o fim de sua vida Dom Gregório foi fiel ao celibato assumido em sua ordenação. Sua saúde não foi mais a mesma: tinham ferido sua dignidade e responsabilidade.
Dom Gregório era efusivo, afetuoso com todos. Daí a caluniá-lo o caminho era curto.
Não desanimou. Uma cruz foi extremamente dolorosa para ele: a morte inesperada de Mons. Clemente Antônio Muziol em 27 de novembro de 1985, seu amigo, confidente, alter ego. Para estar livre para a ação pastoral, o profetismo e, por que não?, as improvisações e experiências, Dom Gregório confiou-lhe o governo da Diocese, de modo particular toda a parte burocrática e administrativa. A morte imprevista desse homem aos 68 anos arrefeceu muito a alegria de Dom Gregório. Foi como perder um braço. Outra perda foi a renúncia de Dom Afonso Niehues à arquidiocese de Florianópolis em 1991 (e falecimento em 30 de setembro de 1993). Dom Afonso e Dom Gregório se completavam: a prudência do primeiro com o entusiasmo do segundo, os passos lentos do primeiro com a agitação do segundo: dois amigos diferentes, e que trabalhavam um olhando para o outro.
Na paz dos justos
Completados os 75 anos de idade, apresentou o pedido de renúncia em 17 de abril de 1993. No dia 9 de março de 1994 foi publicada a nomeação de seu sucessor, o Pe. Orlando Brandes, professor de Teologia Moral no ITESC de Florianópolis (hoje Arcebispo de Aparecida-SP) e que assumiu no dia de sua ordenação episcopal, em 5 de junho de 1994. Era o candidato de Dom Gregório e, organizado, deu impulso a muitas intuições do antecessor. Os que fazem leituras históricas ingênuas procuram fazer a diocese começar com Dom Orlando: na Igreja, os grandes homens se sucedem e não se substituem!
Disposto a colaborar com o sucessor, passou a residir em casa própria. Pouco depois foi surpreendido por um câncer maligno de efeitos devastadores. Foi ao ser informado de seu fim próximo que gritou: “Incendeiem a diocese!”.
Na sua primeira Missa em São Ludgero, apenas ordenado bispo de Joinville, confidenciou: Devo a minha vocação ao Monsenhor Tombrock. Como acólito, quando criança, ajoelhado nos degraus do altar, observei o venerável celebrante que voltou para o povo, abriu os braços e o saudou, dizendo: Dominus vobiscum. Naquele instante, senti um impulso forte e uma voz interior que me dizia – Gregório, por que tu não podes ser como ele, sacerdote da Igreja, chamado e enviado por Deus? Ouvi e respondi: Aqui estou. Parti para iniciar meus estudos no Seminário. Um caminho que seguiu até a morte. Faleceu em 3 de janeiro de 1997.
Seus restos mortais repousam na Catedral diocesana de Joinville.
(Informações extraídas de livro escrito pelo Padre José Artulino Besen, da revista Santo Antônio dos Anjos e Laguna Três Séculos de Fé, de Nelson José Gomes Siqueira e do livro “Dom Gregório Warmeling: Pastor e Profeta, de Lurdes Caron)

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