Aquicultura e Pesca

Chuvas de El Niño? Tchau, camarãozinho!

A Organização Meteorológica Mundial fez um alerta há poucas semanas: “O El Niño este ano vai ser um dos mais fortes das últimas décadas”. Após esta declaração, os principais meios de   comunicação têm noticiado sobre o tema. Contudo, uma parcela da população ainda não entendeu direito o que de fato é esse tal de El Niño. Nesse sentido, a coluna desta semana irá discorrer brevemente sobre o tema, enfatizando os possíveis impactos deste fenômeno sobre uma atividade específica: a pesca de camarões no nosso Complexo Lagunar. O El Niño é um fenômeno atmosférico-oceânico que tem como característica o aquecimento anormal das águas superficiais e sub-superficiais do Oceano Pacífico, principalmente nas regiões equatoriais central e leste deste oceano, ocorrendo em escalas temporais que variam de 3 a 7 anos, com incidência predominante no último trimestre. Em virtude da ocorrência deste fenômeno estar usualmente próxima ao Natal, os pescadores peruanos “batizaram” este aquecimento anômalo das águas do Pacífico como El Niño, em homenagem ao nascimento do Menino Jesus. Deixe-me tentar adivinhar o seu pensamento: “Ué, isso não possui nenhuma relação com a pesca do camarão no Complexo Lagunar. Afinal, o Oceano Pacífico está muito distante da nossa Laguna”. Errado! A ocorrência do El Niño altera toda a dinâmica atmosférica em escala global, provocando bruscos impactos sobre diversas atividades humanas. No caso do Brasil, várias transformações são verificadas em anos de El Niño. Na região Sul do país, um dos principais impactos deste fenômeno está associada a intensificação do regime de chuvas que, inclusive tem criado situações de calamidade em alguns municípios de Santa Catarina. Certo… e o que os camarões do nosso Complexo Lagunar tem a ver com isso? Os camarões que costumeiramente capturamos na lagoa têm o início do seu ciclo de vida associado à migração dos indivíduos adultos para o mar aberto em busca de águas com temperaturas e salinidades mais estáveis para que possam maturar e desovar. Após a desova, os  camarões passarão por diferentes estágios larvais. Nesta fase eles buscarão regiões abrigadas e fartas em alimentos. Sim, o nosso Complexo Lagunar é uma dessas regiões ótimas, pois funciona como um berçario natural onde estes animais crescem e se transformam em juvenis, quando então, iniciam a migração para o mar aberto para dar início a um novo ciclo. Em anos de El Niño a intensificação das chuvas sobre a nossa região poderá reduzir a salinização das águas do Complexo Lagunar, criando uma condição desfavorável para os camarões que desejam entrar neste imenso berçario natural. Adicionalmente, o aumento das precipitações, incrementam as vazões da zona estuarina para o mar, impedindo a entrada das larvas de camarões no estuário e/ou transportando precocemente para o ambiente marinho, os indivíduos que já se encontravam no Complexo mas que ainda não estavam aptos para migrarem para o oceano. O resultado: Se as chuvas de El Niño se prolongam muito, teremos uma safra de camarões frustrada. Entendi! A culpa pela possível redução das capturas de camarões no Complexo Lagunar está exclusivamente associada ao El Niño! Não, este fenômeno periódico explica de maneira genérica e parcial, as razões pelas quais, os estoques deste recurso apresentam oscilações naturais em ambientes transicionais. Quando o assunto é a redução das pescarias dentro do nosso Complexo Lagunar, as explicações vão muito além de um “simples” El Niño.

Por:
Prof. Dr. Eduardo Guilherme Gentil de Farias, Engenheiro de Pesca
Prof. Dr. Giovanni Lemos de Mello, Engenheiro de Aquicultura
Prof. Dr. Jorge Luiz Rodrigues Filho, Biólogo
Prof. Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano, Zootecnista
aquicultura.pesca@gmail.com

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