Leonardo Boff

Crise política e desesperança geral (Parte 1)

Um dos efeitos perversos de nossa crise nacional é sem dúvida a desesperança que está contaminando a maioria das pessoas. Ela se manifesta pela angústia de não ver nenhum horizonte do qual se possa vislumbrar uma solução salvadora. Emerge a sociedade do cansaço e da perda da alegria de viver.
São as consequências da ausência de sentido, de que tudo vai continuar na mesma lógica, feita de corrupção, falsificação das notícias (fakenews) e daí da realidade, maledicência generalizada, a dominação dos poderosos sobre as massas entregues à sua própria sorte.
Tal desolação alcança também a percepção do futuro de nosso mundo e da humanidade, pouco importa o que possa ocorrer. Bem observou o Papa Francisco em sua encíclica “sobre o cuidado da Casa Comum”: “As previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia. Para as próximas gerações poderíamos deixar demasiadas ruínas, desertos e lixo. O estilo de vida atual, por ser insustentável, só pode desembocar em catástrofes” (n.161). Mas quem pensa nisso a não ser quem acompanha o discurso ecológico mundial? Portanto, além das múltiplas crises sob as quais sofremos, temos ainda esta sombria de natureza ecológica.
Neste contexto voltam os pensamentos de coloração niilista como o do Nobel em biologia Jacques Monod:”É supérfluo buscar um sentido objetivo da existência. Ele simplesmente não existe. Os deuses estão mortos e o homem está só no mundo” (O acaso e a necessidade, Vozes 1979, p.108). Ou o famoso C. Levy-Straus que tanto amava o Brasil deixou escrito nos seus admiráveis “Tristes trópicos” (1955): “O mundo começou sem o homem e terminará sem ele. As instituições e os costumes que eu teria passado a vida inteira a inventariar e a compreender, são uma eflorescência passageira de uma criação em relação com a qual elas não têm sentido, senão, talvez, aquele que permite à humanidade a desempenhar o seu papel” (p.477). Mas será que o ser humano não é o inverso de um relógio? Este funciona em si mesmo e anda conforme seus mecanismos internos. O ser humano não é um relógio. Ela anda bem quando estiver em sintonia permanente com o Todo que o envolve por todos lados e está para além dele mesmo. Portanto, temos que deixar de lado todo antropocentrismo e assumirmos uma leitura mais holística do sentido da vida.

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