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Laguna: Área tombada e percursos

O Projeto Rota da Baleia Franca foi idealizado pelo Sebrae em 2012, em parceria com os municípios litorâneos de Santa Catarina. A iniciativa busca valorizar a Área de Preservação Ambiental (APA) da Baleia Franca como destino turístico de excelência no segmento de ecoturismo.
Este projeto se insere no Centro Histórico de Laguna devido à importância econômica e social que este animal proporcionou durante o período colonial brasileiro,caçado até em sua quase extinção. Seu óleo foi empregado principalmente como elemento de liga nas argamassas de cal e areia das principais construções do período colonial bem como para uso de iluminação das casas e ruas da cidade.Em memória a esta espécie que hoje se encontra em recuperação populacional, o projeto visa evidenciar sua importância histórica e social,presente em nossas construções até os dias de hoje.

O TRATADO DE TORDESILHAS E INÍCIO DA OCUPAÇÃO DE LAGUNA

Antes mesmo da colonização do Brasil, as terras da Laguna já eram citadas no Tratado de Tordesilhas, em 1494, por sua posição geográfica sobre a linha imaginária que dividia o mundo entre as potências marítimas da época:Portugal e Espanha.

Portugal havia instalado um povoado na atual cidade de São Francisco do Sul, em 1658 e outro na atual cidade de Florianópolis, antiga Nossa Senhora do Desterro, em 1673. Para concluir sua ocupação, foi instalado este porto militar, mais ao sul, em 1676, que deu origem ao povoado de Santo Antônio dos Anjos da Laguna – última enseada de águas calmas protegida visualmente pelos morros e pertencente ao território português.

Toda a história desta cidade, com fatos marcantes, alternados por momentos de progresso e estagnação, está retratada pelo casario do Centro Histórico preservado, considerado Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde 1985.

As ruas são, na verdade, um grande museu a céu aberto, onde é possível apreciar e conhecer a história e a cultura desse povo através das diferentes arquiteturas, pelo traçado das ruas, pela sua paisagem natural envolta e pelos usos destes espaços. As características de cada linguagem arquitetônica refletem um momento econômico e as necessidades de moradia e costumes da época. Você pode conhecer e sentir a história desta cidade caminhando pelo Centro Histórico e acompanhando os percursos onde estão marcadas as edificações mais representativas de cada época.

 

CASA DE CÂMARA E CADEIA E PRAÇA REPÚBLICA JULIANA

Foi com a visita do Ouvidor-geral Rafael Pires Pardinho, em 1720, que este local foi definido como o espaço político da cidade, separado do espaço religioso, onde foi implantada a Igreja Matriz.

A Casa de Câmara e Cadeia também foi localizada de modo a ter à sua frente um espaço reservado para praça, local destinado à concentração da população quando da necessidade de se proclamar ordens, avisos e Leis ao povo.O sino era tocado para atrair a população a ouvir as proclamações e para indicar os horários de abertura e fechamento do comércio.

A praça recebeu várias denominações ao longo da sua história,sendo hoje a Praça República Juliana, em homenagem a proclamação da República Juliana ou Catarinense ocorrida em 29/07/1839 durante a Revolução Farroupilha (ou Guerra dos Farrapos). A República durou o período de quatro meses, no qual Laguna foi considerada sua capital.

Esta praça só começou a ser urbanizada na virada do século XX e sempre foi utilizada para realização de eventos cívicos, como foi o caso da proclamação da República Juliana, além de outras comemorações cívicas,como a Semana da Pátria. É o lugar simbólico da representação política da cidade. O prédio foi tombado pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1954 e o Museu – na Casa de Câmara e Cadeia – foi inaugurado em 1956.

 

PRAÇA JERÔNIMO COELHO, MORRO DO ROSÁRIO E IGREJA DE N. SRª DO ROSÁRIO

A área desta pequena praça era um pouco maior antes de 1880, sendo na época uma pequena área de praia, pois as águas da lagoa contornavam o Morro do Rosário e se estendiam até a atual Rua Almirante Lamego, no bairro Campo de Fora.

Este local era conhecido como Campo do Potreiro, pois havia um pequeno cercado para guarda dos cavalos e muares. Desde aquela época já se observava o formato triangular delimitado por algumas casas construídas aqui. Com a vinda da ferrovia, esta orla foi afastada com consecutivos aterros que se sucederam, dando lugar a linha férrea que contornava o Morro até chegar ao cais do Centro Histórico. Posteriormente, com a era dos automóveis, início do século XX, a Praça foi delimitada com espaço para calçadas e de circulação de carros, mantendo o seu desenho até hoje.

Por esta Praça tem-se o acesso ao Morro de Rosário, conhecido antes como Morro do Potreiro. Havia também outra saída pela Rua 13 de maio, que alcançava a orla. Este Morro foi o lugar escolhido para a construção da Capela de Nossa Senhora do Rosário, erguida em 1845 e considerada a padroeira dos povos negros. Mas, infelizmente precisou ser demolida na década de 1930, em virtude de um incêndio que ocorreu e comprometeu sua estrutura. A Capela de Nossa Senhora do Rosário marcava a paisagem naquele local, pois, erguida no alto do Morro do Rosário, era o segundo ponto mais alto da cidade, só perdendo para o Morro do Hospital Bom Jesus dos Passos.

 

FONTE DA CARIOCA E PRAÇA LAURO MULLER

Encontrar uma fonte d´água doce foi imprescindível para que o povoado se instalasse nesta praia de águas calmas e aqui se desenvolvesse. A fonte d´água,comumente chamada de CARIOCA (kari’oka, kari`= branco; oka = casa; Casa do branco) permanece em uso até hoje. Uma de suas restaurações, incluiu a renovação do sistema de captação subterrânea da água utilizando encanamento de aço inoxidável desde a nascente até as torneiras.

Na época da fundação do povoado, as águas vertiam do morro, escorriam e formavam uma grande área alagada (onde situa-se hoje a praça e o posto de saúde) e um córrego que chegava até a praia. Toda esta área era utilizada para lavagem de roupas e junto de uma bica instalada na base do morro, carroças estacionavam para encher seus barris de madeira com a água, os quais eram vendidos para a população.

A estrutura atual da Fonte da Carioca só foi construída em 1863 e a Casa Pinto D´Ulyssea, ao lado, em 1866, sendo estas as primeiras construções desta área. A delimitação da Praça só ocorreria após a construção do Colégio Jerônimo Coelho em 1911 e do Posto de Saúde,situado à frente desta Praça, nos anos de 1940.

 

CAIS DO MERCADO E PRAÇA PAULO CARNEIRO

Esta área faz parte de um grande aterro iniciado na década de 1880 para ampliação do porto e chegada da rede ferroviária. A movimentação comercial de Laguna aumentou vertiginosamente com a descoberta das pedras de carvão na região sul do estado, municípios de Lauro Muller e Criciúma. O aterro na orla do Centro Histórico foi imprescindível para receber toda a carga de produtos que vinham do interior e era embarcada neste porto – além de produtos alimentícios, o destaque foi para a madeira e as pedras de carvão.

Com a primeira guerra mundial, a movimentação do transporte de carvão e madeira aumentou vertiginosamente.Até 1920, aproximadamente, foi um período de muitas melhorias urbanas na cidade, tais como: a iluminação pública, a pavimentação das ruas e passeios públicos, e especificamente, a conclusão das obras do cais do porto, ao lado do Mercado Público Municipal.

Com a transferência do porto para o bairro Magalhães no final dos anos de 1930, esta área foi novamente delineada. Foi construída a avenida atual com o canteiro central, a delimitação da Praça e o surgimento de novas quadras que foram ocupadas paulatinamente durante as décadas de 1940 a 1960. Por isso, nestas quadras predomina a arquitetura pré-moderna e mais especificamente a linguagem Art Déco, tais como: o Cine Teatro Mussi, a sede dos Correios, o antigo endereço do INSS, a Capitania dos Portos e o atual Mercado Público Municipal.

 

IGREJA MATRIZ E PRAÇA VIDAL RAMOS

Como era o costume das bandeiras colonizadoras portuguesas, assim que Francisco de Brito Peixoto ancorou nesta praia, definiu um local para erguer uma capela católica e dedicá-la a um Santo protetor. Também, como era de costume, uma grande área foi reservada na frente da capela para construção da futura praça, palco das manifestações religiosas e sociais.

A capela foi construída inicialmente com materiais simples, de pau a pique e palha, sendo substituída posteriormente, por pedra e argamassa de cal e areia em 1696, no mesmo local onde hoje é a capela mor da Igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos.

A Praça Vidal Ramos, antes denominada de Campo do Manejo, era um grande descampado alagadiço,muito utilizado para acolher algumas tropas de gado em passagem pela cidade. Na virada do século XX, as ruas da cidade começaram a ser pavimentadas e a praça foi delimitada na dimensão que é atualmente. Seu paisagismo, incluindo a plantação das palmeiras imperiais nas quatro pontas da praça, foram executadas na década de 1910-1915, assim como a implantação do Chafariz,no centro.

A praça, a partir de então, tornou-se atrativa para os passeios dominicais e para diversos clubes e teatros que começam a se instalar nos arredores, sendo o espaço mais prestigiado da cidade para os encontros sociais.

 

Luso-brasileiro

O povoado de Santo Antônio dos Anjos foi elevado a categoria de Vila em 1714. Com a visita do Ouvidor-geral, foram delimitadas as primeiras ruas e arquitetura da cidade. Inspirada nas cidades portuguesas, a arquitetura luso-brasileira possui fachada alinhada ao passeio público,com as paredes predominantemente pintadas de branco e esquadrias coloridas. A cobertura é aparente, com telhas cerâmicas capa e canal e beiral marcado por beira-seveira ou cimalha,tendo sempre uma de suas águas voltada para a rua. Era costume utilizar nas construções mais nobres o óleo de baleia misturado nas argamassas das paredes.

 

Art déco

Laguna, a partir da década de 1920, já tinha seu traçado urbano definido. Algumas áreas da margem da lagoa foram aterradas ampliando os limites urbanizados. O Art Déco é uma linguagem arquitetônica pré-moderna, os detalhes na fachada são reduzidos e com linhas geométricas. As platibandas são maciças e as marquises surgem como elemento inovador. Como no luso-brasileiro,as fachadas são alinhadas ao passeio público.

 

Eclético

A importância do porto de Laguna, no final do século XIX, posssibilitou a concentração de riqueza da população. Período marcado pela urbanização das ruas e praças e inovação arquitetônica influenciada pelas novidades advindas da Europa.As casas ecléticas recebem platibanda para esconder os telhados, detalhes em alto-relevo nas fachadas e cores nas paredes. Começam a apresentar afastamentos laterais e porão alto.

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