Leonardo Boff

No princípio era o feminino: O processo da sexogênese (Final)

O sexo genético-celular humano apresenta o seguinte quadro: a mulher se caracteriza por 22 pares de cromossomos somáticos mais dois cromossomos X (XX). O do homem possui também 22 pares, mas com apenas um cromossomo X e outro Y (XY). Daí se depreende que o sexo-base é feminino (XX) sendo que o masculino (XY) representa uma derivação dele por um único cromossomo (Y). Portanto, não há um sexo absoluto, apenas um dominante. Em cada um de nós, homens e mulheres, existe “um segundo sexo”.
Com referência ao sexo genital-gonodal importa reter que nas primeiras semanas, o embrião apresenta-se andrógino, vale dizer, possui ambas as possibilidades sexuais, femininina ou masculina. A partir da oitava semana, se um cromossomo masculino Y penetrar no óvulo feminino, mediante o hormônio androgênio a definição sexual será masculina. Se nada ocorrer, prevalece a base comum, feminina. Em termos do sexo genital-gonodal podemos dizer: o caminho feminino é primordial. A partir do feminino se dá a diferenciação, o que desautoriza o fantasioso “princípio de Adão”. A rota do masculino é uma modificação da matriz feminina, por causa da secreção do androgêni pelos testículos.
Existe ainda o sexo hormonal. Todas as glândulas sexuais no homem e na mulher são comandadas pela hipófise, sexualmente neutra e pelo hipotálamo que é sexuado. Estas glândulas secretam no homem e na mulher os dois hormônios: o andogênio (masculino) e o estrogenio (feminino). São responsáveis pelas características secundárias da sexualidade. A predominância de um ou de outro hormônio, produzirá uma configuração e um comportamento com características femininas ou masculinas. Se no homem houver uma impregnação maior do estrogenio, terá alguns traços femininios; o mesmo se dá com a mulher com referência ao androgênio.
Por fim, importa dizer que a sexualidade possui uma dimensão ontologica. O ser humano não possui sexo. Ele é sexuado em todas as suas imensões, corporais, mentais e espirituais. Até a emergência da sexualidade o mundo é dos mesmos e dos idênticos. Com a sexualidade emerge a diferenciação pela troca entre diferentes. São diferentes para poderem se inter-relacionar e estabelecer laços de convivência. É o que ocorre com a sexualidade humana: cada um, além da força institiva que sente em si, sente também a necessidade de canalizar e sublimar tal força. Quer amar e ser amado, não por imposição mas por liberdade. A sexualidade desabrocha no amor, a força mais ponderosa “que move o céu e as estrelas”(Dante) e também nossos corações. É a suprema realização que o ser humano pode almejar. Mas retenhamos: o feminine vem primeiro e é básico.

Deixe seu comentário