Variedades

O olhar de cabeçuda pela janela de dona Nita

Rua Giocondo Tasso, casa de número 578. Neste endereço, uma senhora de idade avançada, que carrega na pele, as marcas de 93 anos bem vividos, completados esta semana, é dona de uma memória de dar inveja a tal geração virtual. E é mais precisamente em seu coração, que dona Itamar de Oliveira Quirino carrega incontáveis lembranças que dizem respeito ao desenvolvimento do bairro de Cabeçuda. Considerada uma das moradoras de mais idade na localidade, dona “Nita” como é carinhosamente chamada, inicia a conversa tentando explicar o porquê do nome do bairro: “Contam que nos fundos de uma casa, próxima a estação, existia uma grande pedra com o formato de uma cabeça, que ficou conhecida como “Cabeçuda”. Confesso que não sei se é verdade ou mito”, explica a focalizada, que acompanhou os mais variados tipos de transporte que fizeram a ligação ao centro da cidade, antes da chegada dos automóveis: “Na companhia dos meus irmãos e de meus pais, por muitas vezes fizemos a travessia com uma canoa. Com o passar dos anos, recordo de ter ido a bordo da aranha, charrete das mais conceituadas, até chegar ao trajeto feito de trem, do qual relembro com muita saudade. Não era um deslocamento, era um verdadeiro passeio”. Viúva desde os 47 anos, com seis filhos, nove netos, quatro bisnetos e um tataraneto, dona Nita fez seus estudos como interna no Colégio Stella Maris, e depois, chegou a lecionar como professora nas localidades de Barranceira e Barbacena. Depois do casamento com Paulo Quirino, que era agente da Estrada de Ferro, optou por cuidar do lar e dos filhos, revelando-se uma cozinheira de mão cheia: “Até hoje a família é apaixonada pelo meu empadão e pela rosca de polvilho. Peço para minha filha separar os ingredientes e se me canso, sento um pouco, mas não abro mão de cozinhar para os meus até hoje”. Católica, devota de Santo Antônio dos Anjos, chegou a morar no centro da cidade durante a criação dos filhos, mas nunca se desligou do bairro: “Vivia praticamente em duas casas, mas meu verdadeiro pedacinho de chão sempre foi no lugar que nasci e me criei”. Atualmente morando com uma das filhas, Selma, na casa que foi construída pelo saudoso esposo, não cansa de em longas e boas conversas, resgatar um pouco do passado: “Uma das fases da vida que mais me marcaram, foi quando no ano de 1964, cogitou-se a possibilidade de dinamitarem a ponte de ligação do bairro, na BR-101. Lembro que os moradores, junto ao prefeito da época, Paulo Carneiro, se reuniram e lutaram para que isto não acontecesse, ideia que realmente caiu por terra”. Entusiasta quando o assunto é política, “seo” pai, Aparício, foi um nome de grande expressão, disse que acompanhava com fervor as reuniões realizadas na sala de sua casa e até hoje acaba se informando do cenário atual, por intermédio dos filhos. Se o assunto são as amizades feitas no bairro, também não economiza palavras: “Sou feliz por me dar tão bem com todos e me admiro a forma como sou reconhecida até pelos mais jovens. Apesar de pouco sair de casa, me sinto bem por morar aqui. É um pedacinho de chão encantado, cada vez mais próspero e que com certeza ainda será cenário de muito desenvolvimento”.

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