Aquicultura e Pesca

O preço real das coisas…

Toda dia ele faz tudo sempre igual. Pega sua caixa de pesca e vai feliz da vida para a área dos Molhes da Barra. Chegando lá, conversa com seus amigos de sempre e começa sua prazerosa tentativa na busca de fisgar um belo peixe. Quando a maré está enchendo ou vazando, altera sua estratégia e seus petrechos de pesca. Sabe que o peixe é influenciado pela dinâmica fantástica das águas do mar com as que vêm do complexo lagunar. Qual é o nome do nosso personagem? Poderia ser vários, pois existem muitos sujeitos que se encaixariam como uma luva na descrição em questão. Tem gente de Laguna e das cidades vizinhas. Muitas vezes tem gente que vem de Criciúma, que se não pode vir todos os dias, não perde um final de semana por aqui. Enfim, a área dos Molhes é pura diversão para pessoas de todas as idades, classes sociais, preferências futebolísticas e crenças religiosas. E o custo de tanta diversão? Poderíamos pensar no custo dos itens essenciais para a atividade. Petrechos de pesca? Gasolina para chegar? Bebidas na caixa térmica? Provavelmente o custo bem baixo, comparado ao bem estar de pescar e ver o por do sol na nossa Lagoa Santo Antônio. O preço das coisas pode ser mensurado de distintas formas. Na economia tradicional utilizaríamos as perguntas feitas acima e rapidamente chegaríamos a um custo. Esta valoração se refere aos recursos econômicos, os quais são apropriáveis e regulados por dinheiro. Entretanto, neste viés econômico, nos esqueceríamos de mensurar o preço para se criar o principal ator na atividade da pesca: o peixe. Melhorando nossa pergunta: Quanto custa para um ecossistema produzir 1 kg de peixe? Quais os subsídios energéticos e condições ambientais para que ocorra a manutenção de populações de peixes? Ah, nos esquecemos de valorar também o quanto esta pescaria satisfaz o amigo que captura um belo exemplar nos Molhes. Quanto vale ir pescar em um ambiente tão bonito e piscoso? Quanto vale pegar um peixe, colocar no balaio e fazer uma “boa” inveja aos companheiros? Isto não tem preço… Na realidade, tem sim!!! Existe um ramo da economia que se preocupa em mensurar estes serviços providos pelo ambiente natural. Tanto o peixe produzido quanto a qualidade ambiental e a sensação de bem estar de aproveitar uma tarde nos Molhes, são serviços providos pelo ecossistema, denominados, portanto, como serviços ecossistêmicos. Serviços ecossistêmicos são definidos como as constantes interações existentes entre os elementos estruturais de um ambiente, as partes vivas e não vivas deste sistema, tais como transferência de energia, ciclagem de nutrientes, regulação de gás, regulação climática, ciclo da água, produção de pescado, recreação, informação histórica, etc. Tais funções criam uma verdadeira integridade sistêmica dentro dos ecossistemas e fornecem qualidade aos ambientes naturais e bem estar às populações que vivem em seu entorno. Entretanto, estas áreas só podem prover seus serviços se estiverem em boas condições ecológicas. Ou seja, uma área impactada possivelmente irá gerar uma menor quantidade de peixes para serem pescados. Ainda, estes peixes poderão sofrer com a deterioração ambiental, sendo assim um pescado com menor qualidade. O pôr do sol não será tão bonito de se apreciar em uma área com águas poluídas e pouca gente gostaria de estar em um ambiente como este. A valoração e a cobrança de serviços ambientais parecem ser distantes de nossa sociedade, mas existem alguns mecanismos de se taxar estes serviços.  Alguns exemplos são o Mercado de Carbono, o ICMS e a valoração por serviços hídricos, sendo esta última revigorada pela atual crise hídrica global. As ferramentas de valoração ambiental são interessantes para se demonstrar o custo que a degradação ambiental gera. Ao atribuir um valor monetário para os serviços ecossistemas podemos criar discussões sobre a conservação e o uso adequado dos recursos naturais. O intuito desta coluna não é gerar um debate sobre a criação de imposto ou taxa para se pescar na Laguna, e sim, motivar a seguinte pergunta: Quanto você pagaria para continuar aproveitando dos serviços produzidos por este ecossistema?

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