Capa

Robalo-flecha cultivado é degustado em restaurante japonês

Daniel CorreaCurso de Engenharia de Pesca desenvolve técnicas para criação do peixe

O Centro de Educação Superior da Região Sul (Ceres), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) em Laguna, ofereceu espécimes juvenis do robalo-flecha (Centropomus undecimalis) para degustação em um restaurante local de comida japonesa na semana passada. Os peixes, que chegaram ao Laboratório de Aquicultura da Udesc Laguna com peso médio inicial de 2,90 gramas, atingiram 500 gramas após cinco experimentos, feitos desde o fim de 2012 no projeto coordenado pelo professor Giovanni Lemos de Mello, do curso de Engenharia de Pesca. As pesquisas desenvolvem tecnologias para o cultivo comercial da espécie no País, que ainda não existe. “Após o último experimento, que foi conduzido entre maio e junho e avaliou o efeito de duas dietas comerciais na engorda da espécie, os robalos produzidos foram oferecidos ao restaurante Umi Cozinha Oriental, que topou o desafio de avaliar a qualidade dos nossos peixes, elaborando diversos pratos de sushi e sashimi”, conta o docente. A degustação contou com a presença de professores dos departamentos de Engenharia de Pesca e de Arquitetura e Urbanismo da Udesc Laguna, de diretores do centro e de acadêmicos envolvidos com o projeto de pesquisa. De acordo com Mello, a aprovação do robalo-flecha de cultivo como peixe branco na comida japonesa foi unânime. “Não encontramos absolutamente diferença alguma no sabor, na textura ou na qualidade da carne do robalo cultivado, comparando-o ao robalo que compramos rotineiramente, oriundo de captura”, afirmam os proprietários do restaurante, Ailton Façanha e Marcelo Lopes.
Alto valor de mercado
O robalo é o peixe mais caro no principal entreposto de pescado da América Latina, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), com preço médio de R$ 28. Em Laguna, o robalo-flecha com peso entre 1 e 1,5 quilo é comercializado na faixa de R$ 18 a R$ 22, enquanto o preço cobrado em Florianópolis pode variar entre R$ 20 e R$ 28. “O robalo-flecha é um peixe nobre, de alto valor de mercado e bastante apreciado pela culinária brasileira”, destaca o professor Giovanni Mello. Segundo ele, a espécie é uma das mais fortes candidatas para a piscicultura marinha no Brasil e adapta-se perfeitamente ao cultivo em água salobra e até mesmo em água doce, podendo ser criado em viveiros de terra, tanques-rede e diversas outras estruturas de produção. “As primeiras pesquisas sobre a engorda da espécie, a partir de juvenis produzidos em laboratório, iniciaram-se em 2009, através de uma parceria entre Udesc, UFSC, Epagri e Univali, além da iniciativa privada, com posterior aprovação de projetos de pesquisa em órgãos de fomento como CNPq e Fapesc”, explica. Os juvenis de robalos pesquisados na Udesc Laguna foram doados pelo Laboratório de Piscicultura Marinha da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que é parceiro da universidade estadual e domina a reprodução da espécie, inclusive com a indução hormonal de reprodutores. No âmbito da parceria entre as instituições catarinenses de ensino e pesquisa, a Udesc Laguna colabora com experimentos que avaliam o potencial da espécie para engorda em viveiros de camarão e principalmente em sistemas de recirculação de água.
Próximas ações
Segundo o professor Giovanni Mello, a Udesc Laguna fará novos estudos com o robalo-flecha neste semestre, com foco em estudos nutricionais que possam produzir dietas experimentais para acelerar o crescimento da espécie e reduzir seu tempo de cultivo. “Com os progressos no campo na nutrição, talvez seja possível produzir peixes de 500 gramas em 12 ou 14 meses, em vez de 16 meses, como obtivemos”, diz o docente. “Não existem rações comerciais para a venda no Brasil e pesquisas na área são bem escassas. Apesar de a principal espécie de peixe produzida no País, a tilápia, atingir 500 gramas em apenas seis meses, seu preço de mercado no Sul é de R$ 3,00 a R$ 3,50, substancialmente inferior ao preço do robalo-flecha.” O professor da Udesc Laguna também ressalta que, devido ao fato de os peixes marinhos terem valor de mercado consideravelmente maior, é possível obter taxas de retorno atrativas para investimentos no cultivo mesmo que o ciclo de produção seja mais longo, superior a um ano. “A partir dos primeiros resultados de pesquisa da Udesc, UFSC, Epagri e Univali, empresários têm procurado saber mais sobre a engorda do robalo-flecha e vêm se encorajando a investir na piscicultura marinha. Ainda neste ano, uma fazenda em São Francisco do Sul provavelmente dará início à produção comercial da espécie no Brasil”, aponta.

Deixe seu comentário