Gabriela Pedroso

Se a vontade é pouca, ela não existe

Durante muito tempo eu achei que a solução para todos os meus problemas seria passar em um Concurso Público. Aos 22 anos assumi um cargo no Poder Judiciário, um pouco antes de me formar em Direito. Era um bom cargo, com um bom salário, mas ainda não era o ideal, muito longe disso. Depois disso, passei mais vários outros anos procurando outros concursos para fazer: queria algo que me proporcionasse um salário confortável o suficiente para passar pelos expedientes. Contava as horas, os minutos para o fim do dia, para o fim da semana, para os feriados. Domingo à noite era o pior: já ficava chateada no início da tarde, porque no outro dia era segunda feira. Só que, para resolver esse problema, eu estava arrumando outro problema, procurando por outro concurso. Passei cinco anos nessa situação, mas sempre acontecia um fenômeno estranho: A cada prova que decidia fazer, começava extremamente empolgada: Comprava livros, me matriculava em cursos, acordava às 5 da manhã para estudar, planejava tudo nos mínimos detalhes. Aprendi tudo o que se precisava aprender sobre técnicas de estudo, PNL, otimização de aprendizado, etc., mas a empolgação nunca durava tempo o suficiente. Eu sabia exatamente o que precisava fazer, mas simplesmente não conseguia me manter focada até o fim. Eu estava tão perdida que nem mesmo conseguia escolher uma área – estava topando literalmente qualquer coisa: Num semestre queria ser Auditora Fiscal da Receita Federal, no outro, Juíza do Trabalho. O ano seguinte seria dedicado à prova do Instituto Rio Branco, e assim foi. Era um completo e perfeito caos, e o resultado das provas era igualmente decepcionante. O ano de 2013 era para ser diferente, e realmente foi, mas não do jeito que eu imaginava. Nesse ponto eu era chefe do meu setor, meu salário havia dobrado e, com ele, minhas responsabilidades. Trabalhava de 10 a 12 horas por dia. Não era feliz no trabalho e mal tinha tempo para aproveitar os períodos fora dele, de tão esgotada que estava. Foi então que, procurando mais um concurso, descobri que naquele ano haveria concurso para Auditor Fiscal do Trabalho. Ótimo salário, flexibilidade nos horários e não trabalharia trancada numa sala. Nossa, era perfeito! Eu simplesmente soube que aquele era o cargo para mim (a essas alturas você deve estar rindo da minha cara… eu sei, também estou). Fiz tudo o que estava no script: comprei livros, um curso online, acordava às 5 da manhã… e estudei uns dois meses. Esse foi o momento em que a frustração bateu. O que estava acontecendo comigo? Por que eu tinha a disciplina para tantas outras coisas, mas não conseguia estudar tempo o suficiente para um concurso? Tudo o que eu precisava fazer era me manter firme e continuar estudando, mas a determinação começava a desaparecer logo depois de começar. Qual era a razão? Entender esse motivo era crucial, pois eu precisava descobrir o que estava de errado para corrigir e tentar de novo. Até que eu finalmente entendi: Eu não queria ser servidora pública. A estabilidade, o bom salário, o tempo livre, nada disso era motivador o suficiente para que eu mantivesse o foco nos estudos. O que eu queria, o que realmente me impulsionava, era o desejo de realização. Queria trabalhar em algo que me proporcionasse uma sensação de propósito, de felicidade, e eu simplesmente sabia que, no meu caso, não era dessa forma que eu iria conquistar essa realização. Esse concurso foi o último para o qual eu estudei. Entenda, pessoas de sucesso fazem o que os outros não estão dispostos a fazer e continuam quando os outros decidem parar. São pessoas que enfrentam um incrível desgaste, cansaço, frustrações e desafios impensáveis. Eles sabem que existe uma montanha a ser escalada antes de desfrutar a vista. Para isso, é importante que o seu destino realmente faça sentido, não acha? Se o seu sonho é ser uma bailarina incrível, é coerente que você suporte as feridas nos pés, as intensas horas de treinamento, a alimentação rígida e os testes sem fim. Seus resultados farão com que valha a pena. Se, por outro lado, esse for o sonho de outra pessoa e não o seu, é bem provável que você se torne uma bailarina medíocre e sem muito destaque, pois essa motivação não gera o seu comprometimento. Esse é o ponto crucial a ser ressaltado: Se você tem algo muito valioso a conquistar, já deu o primeiro passo para alcançar o sucesso, pois possui uma razão pela qual lutar. Se for algo qualquer, que não seja realmente importante para você, as chances de que você se mantenha acordado enquanto todos dormem são praticamente nulas, e você será apenas mais um no meio da multidão. E então? Você já encontrou esse propósito?

Gabriela Besen Pedroso – www.gabrielapedroso.com.br

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