Leonardo Boff

Um problema nunca resolvido: o sofrimento dos inocentes (Final)

O judeo-cristianismo responde que vem do pecado humano (original ou não) e somos os produtores de Auschwizt e de Ayachucho e os grandes massacres dos colonizadores ibéricos no nosso Continente. Mas a resposta não convence. Se Deus previu o pecado e não criou condições para evitá-lo é sinal que não é bom. Porém se fez todo o possível para evitar o pecado e não o conseguiu então é prova de que não é onipotente. Em ambos os casos não seria Deus.
E asim caimos na mesma questão de Epicuro.As teólogas eco-feministas criticam essa formulação entre impotência e falta de bondade como patriarcal e machista, pois tais atributos de onipotência e bondade seriam atributos masculinos. O feminino sente e pensa diferente, bem na linha dos profetas e de Jesus. Estes criticavam uma religião sacrificial em nome da misericórdia: “quero misericórdia e não sacrifícios” soa na boca deles. A mulher está ligada à vida, à misericórdia para com quem sofre e sabe melhor identificar-se com as vítimas.
Argumenta-se então: Deus é tão bom e onipotente que pode renunciar a tais prerrogativas (deixa de ser o “Deus” das religiões convencionais) e se faz ele mesmo um sofredor, vai para o exílio com o povo, é perseguido e por fim é crucificado em seu Filho Jesus. Comentava D.Bonhöffer, o teólogo que participou do atentado contra Hitler e foi enforcado: “Só um Deus sofredor nos pode ajudar”. Talvez por aqui nos venha alguma luz bruxoleante. Quem sabe entendamos alguma coisa do mal, quando o combatemos pelo caminho do bem.
Se não temos resposta para o mal apenas sabemos agora que nunca estamos sós no sofrimento.Deus sofre junto. O terrível do sofrimento é a solidão, a mão que se nega de se pôr no ombro, a palavra consoladora que falta. Ai o sofrimento é completo.
Não há resposta para o sofrimento dos inocentes nem para o mal. Se houvesse. O sofrimento e o mal desapareciam. Eles continuam aí fazendo sua obra perversa. Quem nos salvará? São Paulo, confiante, responde: “é só na esperança que seremos salvos”.
Mas como tarda a se realizar esta esperança!

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