Ai se diz que ele entretinha uma relação especial com Miryam de Mágdala, chamada de “companheira” (koinónos). No evangelho de Maria, Pedro confessa: “Irmã, nós sabemos que o Mestre te amou diferentemente das outras mulheres” (op.cit. p. 111) e Levi reconhece que “o Mestre a amou mais que a nós”. Ela vem apresentada como a sua principal interlocutora, comunicando-lhe ensinamentos subtraídos aos discípulos. Das 46 perguntas que os discípulos colocam a Jesus, depois de sua ressurreição, 39 são feitas por Míriam de Mágdala (cf. Tradução e comentário de J.Y.Leloup, Vozes 2006, pp.25-46).
O Evangelho de Felipe diz ainda: “Eram três que acompanhavam sempre o Mestre, Maria sua mãe, e Miryam de Mágdala que é conhecida como sua companheira porque Miryam é para Ele uma irmã, uma mãe e uma esposa (koinónos: Evangelho de Felipe, Vozes 2006, p.71). Mais adiante particulariza afirmando: “O Senhor amava Maria mais que todos os demais discípulos e a beijava com frequência na boca. Os discípulos, ao verem que a amava, perguntavam-lhe: por que amas a ela mais que a todos nós? O Redentor lhes respondeu dizendo: o que? eu não devo amar a ela tanto quanto a vocês” (Evangelho de Felipe, op.cit. p. 89)?
Embora tais relatos possam ser interpretados no sentido espiritual dos gnósticos, pois essa é sua matriz, não devemos, dizem reconhecidos exegetas (cf.A.Piñero,El otro Jesús: la vida de Jesús en los apócrifos, Cordoba 1993 p.113) excluir um fundo histórico verdadeiro, a saber, uma relação concreta e carnal de Jesus com Míriam de Mágdala, base para o sentido espiritual. Por que não? Há algo mais sagrado que o amor efetivo entre um homem (o Filho do Homem, Jesus) e uma mulher?
Um dito antigo da teologia afirma “tudo aquilo que não é assumido por Jesus Cristo não é redimido”. Se a sexualidade não tivesse sido assumida por Jesus, não teria sido redimida. A dimensão sexuada de Jesus não tira nada de sua dimensão divina. Antes, a torna concreta e histórica. E seu lado profundamente humano.
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