Leonardo Boff

Um problema nunca resolvido: O sofrimento dos inocentes (1ª parte)

Acompanhando a crescente violência no Brasil e verdadeiros massacres de indígenas e de pobres nas periferias e mais ainda, viajando, recentemente pela América Central fiquei impressionado em El Salvador, Guatemala, Nicaragua e outros países da região com os relatos de mssacres havidos no tempo das ditaduras militares, massacres de vilas inteiras, de catequistas ou de camponeses que tinham a Bíblia em casa. O que houve entre nós, na Argentina e no Chile durante o tempo assassino sob a égide das forças militares é também de estarrecer.
Atualmente, dada a crise econômico-financeira há milhões passando fome, crianças famélicas definhando e gente na rua pedindo centavos para comer qualquer coisa. Mas o que mais dói é o sofrimento dos inocentes. Também dos milhões de pobres e miseráveis que sofrem as consequências de políticas econônomicas e financeiras sobre as quais não têm nenhuma influência. Mas são vítimas inocentes, cujo grito de dor sobe ao céu. Dizem as Escrituras do Primeiro e do Segundo Testamento que Deus escuta seus gritos. Um dos profetas chega a dizer que as blasfêmias que proferem por causa da dor, Deus as escuta como súplicas.
Nesse momento há um manto de dor que cobre todo nosso país, com alguma esperança de que as eleições nos tragam líderes cujas políticas sociais façam o povo sofrer menos ou não mais sofrer e até de voltar a sorrir. Bem haja!
Mas o sofrimento dos inocentes é um eterno problema para a filosofia e principalmente para a teologia.Sejamos sinceros: até hoje não identificamos nenhuma resposta satisfatória por mais que grandes nomes, desde Agostinho, Tomás de Aquino, Leibnitz até Gustavo Gutiérrez entre nós, tentassem elaborar uma teodicéia, quer dizer, um esforço de não ligar Deus ao sofrimento humano. A culpa estaria apenas do nosso lado. Mas em vão, pois o sofrimento continua e a pergunta permanece irrespondível.
Talvez o primeiro a formular a questão, sempre repetida pelos grandes pensadores como Russel, Toynbee e outros, foi formulada por Epicuro (341-270 a.C) e recolhida por Lactâncio.um cristão e conselheiro de Constantino (240-320 a.C) em seu tratado sobre A ira de Deus.A questão se põe assim: Ou Deus quer eliminar o mal mas não pode, deixa de ser onipotente e já não é Deus. Ou Deus pode suprimir o mal e não o quer, então não é bom e deixa de ser Deus e se transforma num demônio. Em ambos os casos fica a pergunta: de onde vem o mal?

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