Nem tudo vale neste mundo. Houve Alguém que foi sentenciado à morte na cruz por testemunhar que nem tudo vale e que é digno entregar a própria vida por aquilo que deve ser incondicionalmente intocável e respeitável: a reverência ao Sagrado e a sacralidade do pobre e do que injustamente sofre.
Houve no Ocidente uma figura que se transformou em arquétipo da cortesia e da finura de espírito, daquilo que Pascal chamava de “esprit de finesse” contraposto ao “esprit de géométrie”; aquele, cheio de cuidado e de delicadeza e este outro, marcado pela frieza do cálculo e pela vontade de poder.
Um franciscano francês, Eloi Leclerc, sobrevivente do campo nazista de extermínio de Dachau e Birkenau, traduziu assim a cortesia de Francisco de Assis: “ter um coração leve” sem nenhum espírito de violência e de vingança, o reverso o de ter um coração pesado como o nosso, cheio de grosserias e de obscenidades. Aí ele faz o Poverello de Assis dizer:
“Ter um coração leve é escutar o pássaro cantando no jardim. Não o perturbes. Faze-te o mais silencioso possível. Escuta-o. Seu canto é o canto de seu Criador.”
“Rosas desabrocham no jardim. Deixa que possam florir. Não estendas a mão para colhê-las. Elas são o sorriso do Criador”.
“E se encontrares um miserável, alguém que está sofrendo desesperado, cala-te, escuta-o. Enche teus olhos com a presença dele, com a vida dele até que ele possa descobrir em teu olhar que tu és seu irmão. Então tu o fizeste existir. Tu foste Deus para teu irmão” (O Sol nasce em Assis, Vozes 2000 p.127).
Releva dizer: somos seres duplos, grosseiros e obscenos, mas também podemos e devemos ser gentis e corteses. Destes precisamos muitos, nos dias atuais, em nosso país. Para isso importa educar o coração (sim, dar valor à educação) para que seja leve e totalmente distante de toda a grosseria e de toda a obscenidade, tão vigentes entre nós.
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