Consumido pelo homem desde a Antiguidade, o peixe pode assumir um papel de relevo na alimentação. O seu consumo proporciona ao organismo grandes quantidades de material proteico de muito boa qualidade, usado para fabricar inúmeras estruturas, como músculos, pele, hormonas, indispensáveis à ocorrência de processos biológicos.
Os peixes fornecem quantidades apreciáveis de muitos minerais como cobre, zinco, potássio, magnésio, fósforo, iodo, ferro e selênio, e quando ingeridos com espinha, podem também ser uma boa fonte cálcio. Nas suas variedades mais gordas, os peixes podem apresentar quantidades apreciáveis de vitaminas A, D e E.
A gordura existente nos peixes, apresenta teores elevados de ácidos gordos polinsaturados da série ômega 3, nomeadamente ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA). Estes ácidos gordos têm um papel reconhecido na prevenção de doença cardiovascular, estando também associados a outras funções importantes. O ótimo desenvolvimento neuronal fetal, por exemplo, está dependente dos ácidos gordos essenciais da série ômega 3, em especial o DHA.
Este tipo de gordura apresenta um papel fundamental nas membranas das células, na construção dos tecidos do cérebro, sendo também muito importante para a visão. Sabe-se também que mais de metade do peso seco do cérebro consiste em AGPI de cadeia longa, dos quais o DHA é o ácido gordo ômega 3 mais abundante.
O aumento destes ácidos gordos no cérebro do feto, particularmente de DHA, parece ocorrer durante o pico de crescimento cerebral correspondente ao terceiro trimestre de gravidez, o que também confere ao peixe, um lugar de destaque na alimentação da grávida. Este rápido aumento de DHA nos tecidos neuronais pode diminuir após o nascimento, mas continua significativo até aos dois anos de idade.
Uma baixa ingestão de peixe durante a gravidez pode levar a insuficiência do feto em ácidos gordos da série ômega 3, podendo resultar em efeitos adversos no desenvolvimento neuronal e na função cognitiva. Os resultados de um estudo publicado em 2007 na revista Lancet, e que envolveu cerca de doze mil mulheres grávidas, concluiu que as mulheres com uma ingestão semanal inferior a 340 g de peixe, apresentavam uma probabilidade aumentada das suas crianças se situarem no quartil mais baixo do quociente de inteligência verbal, quando comparadas com as mães que consumiam mais de 340 g de peixe por semana.
Embora seja sabido que o metil mercúrio que o peixe possa ter acumulado tem efeitos adversos no desenvolvimento cerebral, a equipa de investigadores argumenta que o risco de consumir menos peixe e, por isso, de perder os benefícios nutricionais em termos de desenvolvimento neuronal, pode exceder o risco de exposição a concentrações residuais de contaminantes. Limitar o consumo de peixe pode, portanto, reduzir o aprovisionamento de nutrientes necessários ao ótimo desenvolvimento neuronal.
Para além destes benefícios, o baixo teor em tecido conjuntivo faz com que os tecidos dos peixes amoleçam rapidamente, permitindo reduzidos tempos de cozedura, mastigação fácil e tempos de permanência no estômago relativamente baixos. Esta reunião de características torna o peixe um alimento especialmente interessante para todas as idades. E quanto às espinhas, a indústria já disponibiliza inúmeras opções isentas de espinhas de ótima qualidade e sabor.
Mesmo submetendo o peixe a métodos culinários que possam modificar o conteúdo lipídico total, e respeitando a qualidade das gorduras utilizadas, a contribuição percentual de gordura saturada do preparado pode, ainda assim, ser menor do que a contribuição proveniente da ingestão de outras fontes, o que demonstra a qualidade do peixe e o torna tão importante em alimentação saudável, ao longo do ciclo de vida.
Por Patrícia Padrão, Nutricionista e professora na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto.