Bastam estes simples critérios para se perceber o perfil do partido e dos candidatos, de direita (se querem manter inalterada a relação de forças que favorece os que estão no poder), de esquerda (se visam mudanças substanciais para superar estruturas perversas que marginalizam as grandes maiorias) ou de centro (os partidos que se equilibram entre a esquerda e a direita, procurando sempre vantagens para si e para os grupos que representam).
Para os cristãos, impõe-se analisar até que ponto tais programas se afinam com o projeto de Jesus e dos apóstolos, como ajudam na libertação dos oprimidos e marginalizados e em que sentido abrem espaço à participação de todos. Mas releva enfatizar: a decisão partidária é assunto de cada consciência e um cristão sabe que direção tomar.
Dada a conjuntura de exclusão social devido à lógica do neoliberalismo, da financeirização da economia e do mercado, a fé aponta para uma política partidária que deve revelar uma dimensão popular e libertária, de baixo para cima e de dentro para fora como o Papa Francisco tem proclamado aos movimentos sociais populares e na encíclica Fratelli tutti (n.141-151). Essa política pretende outro tipo de democracia: não apenas a democracia representativa/delegatícia mas uma democracia participativa pela qual o povo com suas organizações ajuda a discutir, a decidir e a encaminhar as questões sociais.
Por fim, releva inaugurar uma democracia socio-ecológica que incorpore como cidadãos com direitos a serem respeitados: a Terra, os ecossistemas e os seres da criação com os quais mantemos relações de interdependência. Somos todos “tutti fratelli” segundo as duas encíclicas do Papa Francisco, “Laudato Sì: sobre o cuidado da Casa Comum” e a recente de 2020 Fratelli tutti.
A política partidária, tem a ver com o poder que para ser forte quer sempre mais poder. Nisso há um risco, o risco do totalitarismo da política, de politizar todas as questões, de ver somente a dimensão política da vida. Contra isso devemos dizer que tudo é político, mas a política não é tudo. A vida humana, pessoal e social, comparece com outras dimensões, como a afetiva, a estética, a lúdica e a religiosa.
Conclusão: a memória perigosa de Jesus
Os cristãos podem e devem participar da política em todos os níveis, em P maiúsculo e em p minúsculo. Sua atuação se inspira no sonho de Jesus que implica um impulso de transformação das relações sociais e ecológicas, corajosamente apresentadas na encíclica Fratelli tutti. Nunca, entretanto, deve esquecer que somos herdeiros da memória perigosa e libertária de Jesus. Por causa de seu compromisso com o projeto do Reino de amor, justiça, de intimidade filial com o Pai e especificamente, de sua compaixão pelos humilhados e ofendidos, foi levado à morte na cruz. Se ressuscitou foi para, em nome do Deus da vida, animar a insurreição contra uma política social e partidária que penaliza os mais pobres, elimina os profetas, persegue os pregadores de uma justiça maior e reforçar a todos que querem uma sociedade nova com uma relação de fraternidade e de cuidado para com a natureza, para com todos os seres, amados como irmãos e irmãs e para com o Deus de ternura e de bondade.
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