Imagino que você saiba o que é e para que servem algemas. Prender alguém pelo pulso. Sempre que pensamos nelas, pensamos em um instrumento opressor. No ambiente corporativo elas também existem, muitas vezes, camufladas em benefícios e salários altamente atrativos.
No livro Morrendo por um Salário de Jefrey Pfeffer, histórias de executivos e trabalhadores que adoecem por causa do trabalho e infelizmente, chegam ao extremo do adoecimento, levando ao suicídio inúmeros Ceos e profissionais que não conseguem lidar com as cargas excessivas, viagens, ausência das famílias, zero descanso e inúmeras cobranças. Os dados são impressionantes, 61% dos funcionários afirmaram que o estresse no trabalho os deixou doentes, e 7% disseram ter sido hospitalizados. O estresse ocupacional custa aos empregadores norte-americanos mais de US$300 bilhões por ano e pode causar 120 mil mortes a cada ano. Na China, em torno de 1 milhão de pessoas morrem por ano devido ao excesso de trabalho — literalmente morrendo por um salário. E se você está pensando que este número não condiz com a nossa realidade, analise estes dados, segundo levantamento feito pela International Stress Management Association (ISMA), o Brasil é o segundo país com maior prevalência de alto estresse no ambiente de trabalho, chegando a 69% dos profissionais impactados, perdendo apenas para o Japão. Qual o reflexo disso? Com certeza, as questões do trabalho impactam nas relações familiares e interpessoais, saúde psíquica, nas questões econômicas e sociais. Seria muito mais inteligente olharmos para esta situação e darmos a ela a relevância necessária e também, olharmos para as questões de trabalho de uma maneira mais humana, muitas empresas ainda desconsideram a responsabilidade que eles têm com seus empregados. E muitos trabalhadores tornam-se reféns de algemas de ouro, e as chamamos assim, porque aparentemente as questões salariais brilham os olhos de quem o recebe, mas a pergunta é, que preço estamos pagando por isso?
As relações abusivas não acontecem apenas no ambiente corporativo, elas também se fazem presente em nossas relações pessoais. Quantas amizades e casamentos se constroem com base em trocas, interesses, ganhos secundários, dor, suborno, e muitos se sujeitam às migalhas que às vezes surgem maquiadas de uma boa vida, bons lugares, boa comida, mas também, muito sofrimento – velado, obviamente.
E como nos livramos das algemas de ouro? Eu trocaria a palavra livrar por conscientizar. Se você tem clareza sobre quem você é, valores – negociáveis ou não, saberá priorizar aquilo que é fundamental para a sua vida e principalmente, saberá dizer não sempre que sua integridade estiver em jogo. E eu sei, que talvez sua primeira resposta seja: ‘Não posso sair do emprego’, tenho boletos a pagar e uma família para sustentar. Ou, ‘não posso sair dessa relação’, me proporciona conforto. A questão é: qual a sua escolha diante disso e qual o preço pago pela mesma? Eu não tenho dúvidas, a forma de pagamento para qualquer algema de ouro é a moeda mais honrosa que você já recebeu: sua vida. Pense nisso.
Por Letícia Zanini – Master Coach, Psicóloga e Educadora Comportamental