Escrevo tudo isso a propósito da figura do genial jogador argentino de futebol Diego Maradona. Vê-lo em campo era um espetáculo por si só. Driblava com uma inteligência sumamente criativa; um sentido único de oportunidade. Pequeno, 1,65 de altura, robusto e com uma velocidade inacreditável. Toda comparação é odiosa, pois cada um é um e irrepetível. Mas Maradona excele sobre qualquer jogador ainda em atividade. Será uma referência mundial imarcescível.
Mas eis que irrompeu a tragédia: foi tomado pela dependência química da qual nunca se libertou totalmente. Era tão humano que não escondia sua dependência. “Sabe que jogador eu teria sido se não tivesse usado drogas?” se perguntava com humor. “Tenho 53 anos, mas é como se tivesse 78. Minha vida não foi normal, digamos. 53 anos? Eu vivi 80.” Morreu aos 60 anos. Ele foi um herói resistente (del aguante) tragado pelo lado do obscuro e do excesso.
Vale recordar: jogava com os pés agilíssimos e com a cabeça que marcava gols notáveis. Mas sua cabeça também pensava e definia em que lado se colocava no espectro social: do lado dos oprimidos, simbolizados por Fidel Castro e por Lula. E o anunciava publicamente.
O povo argentino, tão sofrido por problemas internos políticos, o elevou ao mais alto ponto da exaltação a ponto de penetrar no espaço do Numinoso e chama-lo de “deus”. Faltavam-lhe palavras para admirar o seu “Pibe” “o divino infante”. Há que se entender corretamente tal exaltação que ocorre sempre quando o entusiasmo supera todos os limites e encontra nas palavras do Numinoso sua melhor expressão.
Uno-me ao encantamento de sua arte e solidarizo-me a tantos do povo argentino em lágrimas, que com Maradona ganhavam a força de superar dificuldades e manter a alegria de viver. Uniu em si o humano e o inumano, como nos recorda Nietzsche, pois ambos, o humano e o excessivamente humano, pertencem ao humano: luminoso e obscuro, heroico mesmo vencido.
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