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Histórias Inspiradoras

A enfermeira Michela Souza, a empresária Camila Machado Carboni e a professora Pâmela Paes Neves têm histórias de vida e realidades diferentes, mas algo em comum uniu essas três mulheres em 2020: Elas se reinventaram e se propuseram a fazer algo novo neste ano incomum

É por volta de 5h30 da manhã quando o despertador toca na casa da enfermeira Michela Souza. Após realizar alguns afazeres domésticos e deixar a rotina das crianças encaminhada, segue para o Centro de Triagem de Covid de nossa cidade. Há sete meses lidando diretamente com pacientes que procuram pela realização de testes, ela garante que aceitar o desafio de atuar na linha de frente não foi tão fácil: “Até então trabalhava no Posto de Saúde da Ponta da Barra. Quando fui convidada para ingressar na triagem refleti muito à respeito. Sou diabética e hipertensa, o que me coloca no grupo de risco, mas a vontade de ajudar e fazer a diferença falou mais alto”, explica.

Diariamente, por sua sala, passam centenas de pessoas que ali chegam debilitadas e inseguras diante do desconhecido: “A Covid é uma doença que afeta não apenas o físico, mas o psicológico do paciente, que está devastado emocionalmente. Eu e toda equipe precisamos estar diariamente preparados para acolher, cuidar e dar todo suporte necessário, que vai muito além do exame. Nestes meses que aqui estou, já chorei com muitos deles e sofro por não poder nem abraçá-los para transmitir um pouco de conforto. São tantas histórias de vida, um medo do que virá pela frente após um resultado positivo, famílias que encaram a doença separadas, alguns em casa, outros no hospital. É puxado”.

Há nove meses sem abraçar sua mãe, que reside em Florianópolis, Michela sofre ainda mais ao ver o descaso de parte da população para um assunto tão alarmante: “Muitos encaram como uma brincadeira e não medem o tamanho do problema. Os profissionais da saúde estão esgotados. Diariamente lidamos com pessoas na equipe que choram, que se questionam dos riscos que vivem. Nos resta transmitir otimismo e força uns para os outros. Eu espero de coração que no próximo ano as pessoas despertem para o novo e deixem para trás a frieza e intolerância. Falta ao ser humano se predispor a se colocar no lugar do próximo”.

O que restará da pós Covid? Para a enfermeira sua vida jamais será como antes: “Ao enfrentar o desconhecido, vi a mulher forte que sou. A oportunidade de servir pessoas está sendo um aprendizado muito grande. Uma experiência única”, finaliza.

Empresária

A chegada da pandemia trouxe o fantasma do desemprego na vida da lagunense Camila Machado Carboni. Com um cenário difícil, a falta de perspectiva, um filho para criar e as contas vencendo, a filha de pescador buscou o único recurso que tinha: vender pacotes de camarão dos conhecidos que pescavam: “Era o que tinha para o momento. Precisava buscar uma fonte de renda”, recorda.

A necessidade e o momento tão delicado, fez com que Camila pensasse “fora da caixa”, e oferecesse algo que agregasse um pouco mais: “Ficava diariamente matutando o que poderia fazer. Foi aí que surgiu a ideia de vender porções prontas. Nunca havia trabalhado diretamente na cozinha, só fazia o dia a dia para o almoço e janta da família. Só tinha a meu favor, uma rede boa de relacionamentos, que poderia me render possíveis clientes e a ferramenta da internet nas mãos”.

E assim, na companhia do marido, foi aos poucos criando o cardápio, adaptando as receitas, divulgando, fazendo parcerias e vendo tudo evoluir para melhor: “A demanda de trabalho cresceu nestes meses à ponto do Zelindro largar o serviço na construção civil, para unirmos forças em prol do nosso sonho. Hoje nós vivemos 24 horas focados no Camarão Beach Laguna. Começamos cedo, com fornecedores, produção, atendimento e entregas.Não tenho do que me queixar O foco é evoluir, aprender, manter a qualidade e seguir em frente crescendo cada vez mais”.

Sobre as lições que a Covid deixará para a nova empresária, superação, com certeza é a maior delas: “A força de vontade foi o meu lema neste ano. Aprendi que somos muito mais capacitados quando não nos limitamos. Consegui me adaptar diante do que estamos vivendo e me reinventei, superei e inovei. Com a chegada da vacina, viverei um novo desafio e vejo que precisarei ir além do delivery. Vou precisar mudar novamente. Mas é um passo por dia, sempre com muita fé e determinação”.

Professora

Representante de uma classe de profissionais que foi obrigada a se reinventar em questão de dias, a professora do Colégio Stella Maris, Pâmela Paes Neves passou grande parte do seu ano buscando novas alternativas de aprendizado para seus alunos. Natural de Goiânia, Goiás, formada em Letras Português e Espanhol, com especialização em Metodologia do Ensino em Línguas, a mestre avalia um ano escolar tão atípico: “Foi um grande desafio. Não foi fácil para ninguém! Os pais passaram a agregar mais uma dentre tantas funções que já exerciam; também foram professores. Os professores, por sua vez, encontraram-se completamente envolvidos com suas aulas que, sequer percebiam que o dia passou. O trabalho online foi exaustivo. Mas como profissionais que somos, prezamos pelo comprometimento com a educação. Não poderíamos deixar de levar o conhecimento até os alunos! Vejo como um dever. Fiz e sempre farei com amor e respeito a cada aluno e familiar que me permitiu durante todo o ano de 2020, adentrar suas casas através das telas de celulares e computadores”.

Entre os desafios enfrentados, Pâmela avalia alguns deles: “Penso que o maior seja cativar. Trazer o aluno junto a mim; me ver refletida no olhar do aluno, é um desafio constante.  Estar sempre atualizada, manter o equilíbrio entre vida social, pessoal e profissional e, claro, lembrar que hoje os alunos já chegam às salas de aula repletos de informações, este é o mundo deles! Então, hoje, o professor também deve estar bastante conectado e atento, reinventando-se sempre para fazer com que essas informações cheguem aos alunos com um olhar mais didático, científico, reflexivo e crítico”.

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