Sempre tão presente em nossas rotinas, o medo é parte da nossa condição humana e, às vezes, tão desnecessário, eu diria que em alguns momentos, devastador.
Na minha experiência com gestores e executivos, quando eu pergunto qual o maior medo, geralmente a resposta é: deixar de ser necessário e de morrer.
No dia em que ouvi isso pela primeira vez, confesso que fiquei surpresa, porque nunca tinha parado para pensar sobre deixar de ser necessária. E aí, obviamente, começam as indagações: para quem sou necessária? E naturalmente, começam os medos. O primeiro medo é de não ser necessária para ninguém. O segundo, deixar de ser para alguém ou algo que sou importante. Alguém se identifica?! Sobre o medo da morte penso fazer sentido já que vivemos como se eternos fossemos e quando saímos do automático ficamos receosos.
Mas, afinal, o medo está ligado a quê? Se perguntarmos para uma mãe, talvez ela diga medo de perder seus filhos. Se perguntarmos para um executivo, ele poderá falar sobre o medo de perder os negócios, dinheiro, posicionamento. Se pergun-tarmos para um colaborador, com certeza terá medo de perder seu emprego. E ainda, medo de não ser um bom pai ou mãe, medo de perder quem amamos, dinheiro, reconhecimento, fama, saúde e uma enxurrada de coisas que não terão fim. Entretanto, o medo mais perigoso é o de não acreditar na capacidade que temos de encarar todos esses medos.
Sentir medo é natural, seu excesso é patológico. Todo medo tem ligação direta com a sensação de perda. O medo natural nos desafia a não perder, nos faz utilizar o nosso potencial e, quando percebemos, conseguimos. Para isso, é preciso arriscar, é preciso parar para analisar o seu medo.
Voltemos ao exemplo do executivo no início do artigo que disse ter medo de deixar de ser necessário, quando questionado sobre quantas vezes isso já havia acontecido em sua carreira, respondeu: “- Nenhuma”. Ou seja, não havia evidências.
Eis um primeiro tópico quando falamos sobre medo, verificar se há evidências para a sua existência, já que na grande maioria das vezes, nossos medos são frutos de nossas crenças e não de fatos, tal avaliação ajuda a trazer consciência.
Fazer análise das situações de maneira consciente é o primeiro passo para uma vida mais leve. Isso não significa uma vida sem medos, mas uma vida com maior domínio sobre eles. Avaliar o que você controla e o que não controla também poderá contribuir para uma observação interessante.
Então, o que você controla sobre seu medo de deixar de ser necessário ou morrer? Nada! Apenas fazer o que melhor você pode fazer para tornar-se necessário. Sobre a morte, nunca sabemos nosso prazo de validade por isso, a única coisa que nos cabe é viver intensamente. O que você controla sobre o que seu chefe pensa sobre você? Nada! Apenas suas atitudes, se cumpre suas atividades, se entrega suas tarefas de acordo com expectativas, se busca conhecimento, poderão influenciar.
O medo saudável serve apenas para preservar nossa existência. O nocivo, paralisa! Enquanto você está pensando e alimentando seus medos, está deixando de viver, experimentar e, naturalmente, se superar. E para o medo de sentir medo, nada melhor que o autoconhecimento, segundo Joseph Campbell, “a caverna que você tem medo de entrar guarda o tesouro que você procura”. Pense nisso!
Por Letícia Zanini – Psicóloga Mestra em Desenvolvimento Socioeconômico Educadora Executiva