O termo cancelar está vinculado aos comportamentos digitais, cancelamos pessoas quando não concordamos com seus comportamentos. Cancelar nada mais é que um feedback baseado em uma ação, neste caso, uma punição. Por isso, muitos se abalam psicologicamente com os “julgamentos” digitais. Mas será que o fenômeno só ocorre no digital? Será que ambientes corporativos também não promovem uma “cultura canceladora”?
Em um reality show atual, o tema veio à tona e provocou muitas reações nas redes sociais e claro, curiosa que sou, fui ler sobre para verificar o que de fato aconteceu, e por isso faço a conexão com ambientes corporativos, a minha praia. No programa vimos cenas de comportamentos preconceituosos, pressões psicológicas e falta de empatia. E não é isso que vemos em muitas empresas? Líderes que ao invés de promover uma cultura de segurança psicológica, promovem medo e ansiedade e como reflexo, vemos o número de profissionais com problemas psicológicos.
Outra lição importante é que muitos idealizam pessoas pela fama que alcançaram e colocam estes em pedestais como se não fossem humanos, e o que vemos é que a essência sobrepõe às aparências, as expectativas criadas nas cabeças de cada um. Assim como quando você sonha com uma vaga de emprego pelo que o marketing da organização lhe apresenta, mas quando você entra, percebe que a casinha de boneca é um verdadeiro trem fantasma.
Empresas canceladoras têm culturas canceladoras e obviamente, líderes que a promovem. Qual a consequência? Equipes poucos criativas, profissionais executores e dependentes, apáticos e pouco engajados. E como mudar essa realidade? Muita calma nessa hora, mudança de cultura não acontece do dia para a noite, é um processo que precisa partir de um desejo dos “heads” do negócio, e não existe receita de bolo, a cultura de segurança psicológica deve ser desenhada para cada cenário, mas é fato que franqueza e disposição para expor ideias, opiniões e respeito às divergências são ingredientes necessários para que se reduza medos e potencialize aprendizados.
“Nenhuma paixão rouba os poderes de ação e raciocínio da mente com tanta eficácia quanto o medo”, Edmund Burke. Gostaria de finalizar com uma reflexão, se você está numa cultura de empresa canceladora, você se torna também um cancelador? Eis a reflexão, muitas vezes replicamos comportamentos automáticos e não percebemos o quanto alimentamos aquilo que reprovamos no externo. Às vezes somos coniventes, pense nisso!
Letícia Zanini – Psicóloga Mestra em Desenvolvimento Socioeconômico Educadora Executiva