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Carnavais atemporais ou… outros carnavais – Ritmo e prosa separam e aproximam distintas gerações

Numa era em que o politicamente correto dita novos comportamentos, os súditos de Momo parecem agitar-se em seus túmulos como se o passado buscasse justiçar o presente.
A voz isolada do antropólogo mineiro que dias atrás pediu “respeito aos povos indígenas” é rechaçada pela marchinha implorando um intrigante apito que o índio quer porque quer e “se não der… pau vai comer”.
Ainda em Minas, a campanha que ecoa mais uma vez o slogan Não É Não! sofre o assédio de um Pierrô machista e descarado: “Vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é carnaval!”
A homofobia dava as caras na versão bivolt. “Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é?” até que pegava leve com a dúvida. Já “Maria Sapatão, Sapatão, Sapatão, de dia é Maria, de noite é João”… credo em cruz!
O imortal Lamartine Babo se veria em maus lençóis com o verso “O teu cabelo não nega, mulata, porque és mulata na cor”. Mesmo acrescentando um “mulata, és o meu amor”, teria que se explicar.
No vácuo da apimentada versão da turma do Porta dos Fundos em torno de Jesus e seu suposto bofe, convém refletir: que reação teriam fundamentalistas muçulmanos à malta seminua cantando “Allah, Allah, meu bom Allah”?
Alinhe-se Ministério da Saúde, Anvisa e Ministérios Públicos Federal e estaduais para conferir se pode, de fato, “me faltar tudo na vida, arroz, feijão e pão… só não quero que me falte a danada da cachaça”.
Outros tempos, assim contemporizamos. Outros carnavais, com toda a certeza, e num ritmo e numa prosa que separam e aproximam gerações. Minha torcida é para que os felizes na alma sobrevivam.

*Por Nei Manique

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