A gente cresce ouvindo que a vida é uma escola. Que não existe maior universidade que o mundo. Que a decepção não mata, ensina a viver. Que os livros são as armas mais poderosas que alguém pode carregar.
A gente aprende a aprender, aprendendo.
E que a educação é libertadora.
E que melhor maneira de se rebelar contra o sistema é estudar.
Penso, logo existo.
Os professores que a gente tem na vida são muitos, eles podem ser letrados ou não.
Os ensinamentos são constantes e se provieram de questionamentos são sempre os mais profundos.
Eles são combustível para os sonhos.
Eles são gatilho para a dúvida.
Eles são asas para a criatividade.
Eles são multiplicação na equação da vida, ao mesmo tempo que são divisão.
Eles são o brilho no olhar quando há a gana por querer ser melhor.
Eles são tijolo na construção do muro, são cimento e por certas vezes são marreta.
Eles são rabiscos de lápis no rascunho da vida e por ora borrachas que apagam o ensinamento
dúbio. Eles são a força motriz dessa usina de neurônios. Eles são pés descalços cansados de caminhar; e sempre preparados para correr mais uma milha. Eles são a janela da alma que anseia expandir. Eles são para nós como o big bang para o universo. Eles são os heróis que vestem jaleco. Eles são os elementos mais preciosos da nossa tabela periódica. Eles são a geografia mais distinta e acentuada que há na terra. Eles fazem chover onde é seco e derretem no ardor da sabedoria a geleira mais soberba.
Eles fazem o tempo parar e correr tão depressa, é de dar inveja ao relógio. Eles fazem nascer um turbilhão, é de dar inveja aos tornados. Eles fazem nascer raízes que nos afincam no chão e levam a gente as nuvens, como se não precisasse avião.
Eu sonhei que podia mudar o mundo.
Eu sonhei que podia.
Eu descobri que podia mudar meu mundo.
Eu descobri que podia.
Eu não achei o caminho sozinha, foram eles. Essa força, essa massa, essa raça, esse ensejo.
Foram eles que me conduziram, que me divertiram, que me inspiraram, que me acalentaram, que me encorajaram, que me puniram, que me corrigiram, que me transformaram.
A culpa é deles, declaro, são culpados!
Culpados de tentar mudar meu mundo. Modificaram cada parte de mim de uma maneira quase que incontornável.
Cada átomo do meu corpo vibra com cada um deles.Cada neurônio do meu cérebro faz uma sinapse complexa porque eles fizeram com que os neurotransmissores fossem liberados.
Cada gene que carrego sofre edição e cada proteína fabricada passou por modificação pós-transcricional.Cada palavra do meu vocabulário foi salientada pela mera incerteza causada pelo robusto desejo que me foi incitado a ler e escrever. Cada cálculo resolvido pela minha mente e expressado pelas minhas mãos relembra que as máquinas sempre serão projetos que tentam imitar-nos.
Cada movimento do meu corpo me permite sentir a grandeza do universo e a pequeneza da minha existência, assim quando danço, eu entendo que posso mais e que posso menos.
Cada língua nova que aprendo me mostra que nada sou, me diz que cada cultura tem um fundamento e me situa num lugar de inexatidão que causa espanto e excitação.
Cada professor que passou no meu caminho deixou uma marca, uma que jamais será esquecida. Aqueles que me conhecem dizem que tenho uma excelente memória, os estudiosos sabem que a nossa memória é seletiva e carregada de emoções.
Nesses anos de vida, lembro-me de muitíssimas coisas, mas também já esqueci inúmeras. Nesses anos de vida, dificilmente esqueço-me dos professores que passaram em minha vida.
Há aqueles que eu lembro nome, sobrenome, endereço, aniversário, cor preferida. Há aqueles que lembro do rosto, dos trejeitos, da voz.
Há aqueles que lembro da roupa favorita, do estilo, do sorriso.
Há aqueles que já se foram.
Há aqueles que ainda estão presentes no meu dia a dia, e como sou grata. Não há nenhum que foi esquecido.
Da minha primeira professora do Jardim 1, a “tia” Edite do colégio de freiras, que quando fecho meus olhos vejo os pés dela naqueles chinelos listrados vermelho e branco, semi-cobertos pela sua saia longa bordô (eu tinha 3 anos de idade).
Até os professores da faculdade e da pós-graduação.
Vocês são parte de mim.
Eu sou uma somatória de cada traço que vocês fizeram.
Eu sou um livro e vocês escreveram capítulos, vocês editaram, vocês modificaram, ao seu bel-prazer.
Vocês são os autores mais famosos da minha novela.
Vocês são os arquitetos e engenheiros mais distintos da minha construção.
Que a vida ainda me permita ser como vocês.
Porque eu quero ser para muitos o que vocês foram para mim.
Eu quero seguir acreditando que a educação é transformadora.
Eu quero seguir compreendendo que não existe nada mais gratificante do que fazer a diferença na vida de alguém.
Eu quero seguir sendo luz em meio as trevas da ignorância.
Eu quero seguir sendo música e melodia, letra e canção, em meio ao silêncio dos inocentes.
Eu quero viver cada dia sabendo que sei mais do que sabia ontem e não sei nada
perto do que saberei amanhã.
O conhecimento é a chave da felicidade.
O conhecimento é a semente do amanhã.
O professor é chaveiro e agricultor.
O professor é o canal de propagação e veiculação da oportunidade.
O professor é criador do espetáculo, diretor e
ator.
A professora é minha avó.
O professor é meu pai.
A professora é minha mãe.
Esses foram meus primeiros e para sempre
professores.
Esses foram os que me ensinaram que professor deve ser respeitado acima de qualquer coisa.
Esses foram os que abriram caminhos para as Edites, Lucianas, Andréias, Anas Lúcias, Elens, Rogérios, Edivans, Danielas, Antonios, Adrianas, Marlis, Josés, Tadeus, Ronaldos, Marlenes, Lenices, Fátimas, Verônicas, Cláudias, Joãos, Leandros, Jefersons, Fábios, Chicos, Ezequiéis, Gabriéis, Alexandras, Marcelos, Rosângelas, Veras, Rosas, Audaléias, Andrés, Daniéis, Sônias, Vinicius, Ruis, Elizabetes, Cilenes, Jamis, Giles, Alexes, Eversons, Eduardos, Adaires, Williams, Guilhermes, Carlos, Alfeus, Helenas, Tânias, Eloirs, Yaras, Flávios, Simones, Fabíolas, Fabianas, Andrezas, Therezas, Francisneys, Thiagos, Thaíses, Dandaras, Deises, Gustavos, Ana Paulas, Felipes, Filipes, Nelsons, Cristinas, Zenildas, Carmens, Márcias, Elianas, Luizas, Fernandos, Rafaéis, Hugos, Karinas, Marias, Hudsons, Giseles, Marcos, Julianas, Anicletos, Valfredos, Anas, Dinas, Flávias, Sandros, Silvias, Rauls, Táriks, Fabrícios, Julianos, Lucianos, Bárbaras, Amandas, Geizons, Alexandres, Thiagos, Gecionis.
Esses que vivem em mim hoje e sempre.
Aqueles que não lembro o nome, mas tenho a memória vívida da face, das roupas, do cheiro, mesmo esses jamais me deixarão.
Todos os professores da minha vida.
Vocês são meus orgulhos.
Dia 15 é apenas um símbolo irrisório perto do impacto que vocês causaram em mim.
Eu tento celebrar e honrar vocês todos os dias.
Eu sigo tentando, porque o verdadeiro professor tenta como pode.
Mesmo que o objetivo pareça inalcançável.
Mesmo quando a luta parece perdida.
Enquanto houver um professor, haverá uma chama de esperança!
*Por Maíra Assunção Bicca – Neuroscientista, Doutora em Farmacologia. Lagunense, reside nos Estados Unidos.
Deixe seu comentário
Você precisa ser cadastrado para comentar.