O peixe que se pesca lá não fede tanto quanto o que se pesca aqui?
A França é um pais fantástico. Repleta de paisagens naturais, histórias, variedades de vinhos e boa comida. No sul do pais, Marselha já foi considerada como a principal entrada à Europa pelo mar mediterrâneo e, atualmente, é a segunda cidade francesa em número de habitantes. A cidade foi fundada 600 anos antes do nascimento de Cristo por gregos e, ao longo do tempo, foi acumulando edifícios, ruas, vielas e bairros que se formaram ao redor do porto Velho (Vieux-Port). Neste ponto da coluna, novamente um leitor atento deve pensar: Qual a relação do sul da França com o tema da coluna (Pesca & Aquicultura)? Calma lá, que o texto a seguir nos levará ao nosso assunto semanal. Voltando ao texto: Por conta de sua posição estratégica em relação ao Mediterrâneo e sua história única, a cidade oferece uma variedade de atrações turísticas. Quando um turista ou um curioso procura pelas principais atrações da cidade, certamente se deparará com as seguintes: Abadia Saint Victor, Basílica Notre Dame de La Garde, Castelo de If e, pasmem, o MERCADO DE PEIXES DO VIEUX-PORT. Sim, um mercado de peixe é uma importante atração em uma cidade antiga e linda no sul da França!!! O mais interessante é quando você visita este mercado e nota que a atração é formada por duas ou três bancas, nas quais os pescadores artesanais processam seus poucos pescados e os vendem a população local da cidade. Ao mesmo tempo em que uns compram, outros formam aglomerados para se ver escassos peixe-escorpião (Scorpaenaporcus), sáfios (Conger spp.), peixes –aranha (Trachinusaraneus) e outros raros peixes ou crustáceos que vem no baixo rendimento das pescas locais. Quando saímos do Velho Continente e nos deparamos com a situação brasileira, notamos uma sensível diferença. Em um contexto nacional, temos alguns mercados que são um chamariz para turistas e para a compra de pescados de qualidade junto ao pescador. É o caso do mercado do Ver o Peso, em Belém do Pará, que é um dos cartões postais da cidade e que possui seu Conjunto Arquitetônico e Paisagístico e áreas adjacentes tombadas pelo patrimônio histórico. A região do Ver o Peso é uma efervescência: pescadores, turistas e comerciantes se misturam, proporcionando uma experiência única para os que lá estão. Todos estão ali para ver a diversidade de peixes e demais produtos do extrativismo coletados nas áreas de floresta que circundam Belém. Esta valorização da pesca e dos pescadores artesanais é uma recomendação das Nações Unidas para se melhorar à situação da atividade pesqueira no mundo. O Código de Boa Conduta de Pesca (FAO) e a Agenda 21, por meio do capitulo 17, são documentos com amplitude mundial e assinados por vários países, que fornecem diretrizes para que se busquem pescarias mais equilibradas, onde as questões ambientais, sociais e econômicas tenha importância equitativa. Entretanto, quando vemos as atuais recomendações do Ministério Público (MP) de Santa Catarina, notamos uma discrepância em relação aos exemplos citados e o recomendado pelas Nações Unidas de se subsidiar e fomentar a pesca artesanal. Atualmente, se ventila proibir a venda de pescado diretamente pelo pescador, sendo a comercialização somente permitida a partir de entrepostos de processamento. Estes entrepostos podem ser gerenciados pela própria colônia de pescadores e se configuram em locais onde o peixe possa ser manuseado com condições sanitárias adequadas. Os requisitos básicos para a instalação de um entreposto seriam apresentar câmaras frias, controlar qualidade da água, monitorar os produtos químicos utilizados para desinfecção dos equipamentos, apresentar atestado de saúde dos funcionários, controle de pragas e análise laboratorial dos produtos. Mesmo buscando a garantia de um produto de boa qualidade sanitária e a diminuição de fraude na pesca, esta medida aparenta ser equivocada em se tratando de pesca artesanal. Será que ela é tangível de ser aplicada? Segundo os pescadores, não. A busca por uma alternativa deveria ser gerada junta aos pescadores, por meio de discussões dos atores envolvidos. Isto levaria tempo, bom senso e esforços contínuos por parte de todos envolvidos. Caso a recomendação entre em vigor, o que implicará para o consumidor? Que não poderá ir à praia bem cedo e comprar o peixe fresco direto do pescador como faz há muitos anos. Precisa esperar que este peixe vá ao entreposto, seja processado e, assim, possa ser comercializado. Quantos dias se estenderá este processo? Será que o peixe ainda estará cheirando a fresco? E para àqueles que queiram ver a movimentação dos pescadores na venda de peixes e comprar um pescado fresco direto na fonte, que peguem sua mala e vão para o Pará ou para a França…
Por:
Prof. Dr. Eduardo Guilherme Gentil de Farias, Engenheiro de Pesca
Prof. Dr. Giovanni Lemos de Mello, Engenheiro de Aquicultura
Prof. Dr. Jorge Luiz Rodrigues Filho, Biólogo
Prof. Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano, Zootecnista
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