(2ª Parte)
As relações de produção capitalista (em si altamente questionáveis eticamente pela relação desigual entre capital e trabalho) que se introduziram no Brasil pelo processo de industrializção e modernização foram selvagens. Nosso capitalismo nunca foi civilizado pois nunca foi possível uma verdadeira luta de classes (que tem suas regras), no sentido de equilibrar os interesses antagônicos. Ele guardou sua voracidade de acumulação como nas origens no século XVIII e XIX o que se vê claramente no sistema bancário atual, cujas taxas de juros são das mais altas do mundo e os lucros exorbitantes.
A exploração impiedosa da força de trabalho, os baixos salarios são situações eticamente malévolas pelo grau de desumanidade e de injustiça que encerram impondo privações e muito sofrimento às famílias.
Como superar essa situação que nos envergonha? Ela dura séculos e foi praticamente naturalizada. Como ouvi de uma pessoa ilustrada que acusava como corrupto um politico honrado que eu defendia. Sua resposta foi típica: se roubou foi esperto e se não roubou foi um bobo. Assim não dá…
Antes de fazer qualquer sugestão minima, importa fazer uma auto-crítica. Que educação deram as centenas de escolas católicas e cristas e as 16 universidades católicas (pontifícias ou não) a seus estudantes? Bastava terem-lhe ensinado o mínimo da mensagem de Jesus de amor aos pobres contra sua pobreza e comprometê-los em mudanças necessárias para que sua situação hoje fosse menos malvada.
Elas se transformaram, em boa parte, nem todas, em chocadeiras dos opressores. De lá sairam diretores de empresas exploradores, economistas de um liberalism feroz e funcionários públicos sem senso do bem comum, Segundo o motto estabelecido: “o que é de todos não é de ninguém, portanto, posso me apropriar dele tranquilamente”.
A catequese foi doutrinalesca, interessada mais na reta doutrina e menos no reto comportamento. Criou-se um cristianismo cultural que até prescinde da fé. Não foi um cristianismo de fé comprometida com a justiça social e com o destino das grandes maiorias pobres e discriminadas.
Como é possível que num país majoritariamente cristão vigore tanta injustiça, insensibilidade, discriminação social e humilhação de negros e pobres? Alguma coisa errada ocorreu em nossos processos de transmissão da mensagem libertadora e humanizadora de Jesus a ponto de os corruptos e corruptores cristãos, quase todos cristãos, sequer terem a má consciência do que fazem. É a resposta que o deputado Severino Cavalcanti, cassado de seu mandato por corrupção, deu a alguém que lhe perguntou se ia se suicidar: “não me suicido porque sou cristão”. Que signfificou para ele o fato de ser cristão? Nada.