Aquicultura e Pesca

Mancha Branca: Exclusividade do sul ou problema generalizado?

A coluna desta semana destaca um problema que se alastrou nos últimos meses nos cultivos de camarões marinhos por todo o Brasil, causando diminuição na comercialização do crustáceo: o vírus da Mancha Branca. Depois de dizimar cultivos na Ásia e por toda a América Latina (com destaque para Equador, México, Colômbia e depois a região sul do Brasil) este patógeno rompe as últimas fronteiras: as áreas mais quentes da região nordeste brasileira, com destaque para o Ceará (maior produtor do crustáceo no país).
Já era conhecido que a incidência deste vírus era maior quando ocorre temperaturas mais baixas (e oscilantes), má qualidade de água (acarretando variações de pH, oxigênio dissolvido, etc) e presença de outros patógenos como as vibrioses. Tais fatores isoladamente (ou em conjunto) aumentam as chances da disseminação e mortalidades massivas nos cultivos. No entanto, devido as altas temperaturas registradas nos estados mais próximos a linha do Equador, existia certa “tranquilidade” quanto ao surto da doença nesta região. Frases como “Deus é Cearense” frenquentemente era ouvida em rodas de conversas entre produtores.
Mas infelizmente a tranquilidade foi embora e o cenário mudou. Apesar de ter sido detectada no Ceará desde 2005 pelo Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) em viveiros do município de Aracati (a 148 quilômetros de Fortaleza), somente agora um grande surtoocorreu. E com ele trazendo enormes prejuízos. Entre os danos causados ao camarão cultivado, destaque para as visíveis calcificações esbranquiçadas na carapaça e mudanças na coloração. Além disso, uma vez infectado, a morte do animal é rápida. Em menos de três dias toda a população pode ser perdida.
O pequeno criador da região de Jaguaruana, Manoel Gildo de Almeida, relata: “a doença ainda não chegou com força total, mas acredita-se que, quando instalada de vez, vai causar um impacto muito grande, tanto econômico quanto social, porque as fazendas que não tiverem como produzir vão ter de fechar ou diminuir o número de funcionários”.Para conviver com o problema, a Secretaria da Agricultura, Pesca e Aquicultura do estado do Ceará (Seapa) recomenda aos produtores, além de investir em segurança, aderir a novas tecnologias de cultivo e melhorar o manejo. Segundo Ricardo Rebouças,Engenheiro de Pesca da coordenadoria de Aquicultura da Seapa, “muitos países já sofreram com a mancha branca. Esses locais aprenderam ou estão aprendendo a conviver com o vírus, e é o que teremos de fazer aqui no Ceará”. Como já dito em outras colunas, os sistemas de cultivo de camarões evoluíram, basta saber ser queremos evoluir também. A tecnologia já está disponível.

Por:
Prof. Dr. Eduardo Guilherme Gentil de Farias, Engenheiro de Pesca
Prof. Dr. Giovanni Lemos de Mello, Engenheiro de Aquicultura
Prof. Dr. Jorge Luiz Rodrigues Filho, Biólogo
Prof. Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano, Zootecnista
aquicultura.pesca@gmail.com

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