A coluna desta semana aborda um tema pouco conhecido ou pouco discutido no meio aquícola: o cultivo de poliquetas (as famosas “minhocas marinhas”). Estes pequenos animais por diversos anos vem sofrendo uma intensa exploração nas praias brasileiras com a principal finalidade de servir como isca para pescadores amadores. Cada minhoca pode ser comercializada por mais de R$1,00, e como resultado, os estoques vêm diminuindo drasticamente e está cada vez mais difícil encontrar este tipo de isca. Além deste popular uso, os poliquetas também vem sendo utilizados para pesquisas como “bioindicador” e/ou biorremediadores de locais com poluição, além de também servir como rico alimento de reprodutores de peixes e camarões em laboratórios comerciais de produção. O valor de um quilo de biomassa congelada destas minhocas chegam a custar mais de R$200,00!!!
Os poliquetas, em geral, são vermes marinhos detritívoros, ou seja, se alimentam da matéria orgânica do fundo das lagunas e mares. São itens alimentares de uma grande diversidade de peixes. A maioria das espécies de poliquetas são bentônica (vivem nos fundos) e se movem ativamente na superfície do sedimento, construindo “galerias” nestes ambientes. Os poliquetas são conhecidos por cultivarem um verdadeiro “jardim de bactérias” devido a oxigenação dos sedimentos e pela quebra da matéria orgânica mais grosseira. Essas minhocas marinhas são eficientes conversores de matéria orgânica (material em decomposição dos fundos aquáticos) em biomassa animal.
Mas será possível cultivar este pequeno notável? Apesar das dificuldades de reproduzir em ambiente de cativeiro algumas espécies, o cultivo dessas minhocas já vendo realizado com sucesso em alguns países, com destaque para EUA e Austrália. Esses animais são produzidos em larga escala, se aproveitando muitas vezes de resíduos do cultivo de peixes. A grande dificuldade na maioria dos casos é a reprodução, ou seja, fechar o ciclo de produção. Pesquisas pioneiras no Brasil vem sendo realizadas no Centro de Educação da Região Sul (CERES) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), campus Laguna, com uma espécie nativa de nossa região. Coordenada pela pesquisadora Dra. Micheli Cristina Thomas, as pesquisas vem demonstrando resultados promissores na engorda e reprodução em cativeiro. Por meio de fertilização in vitro, foi possível fechar o ciclo de produção e um pequeno plantel desses animais são mantidos para pesquisas na Universidade. Com certeza, mais resultados promissores deste pequeno notável vem por aí!
Por:
Prof. Dr. Eduardo Guilherme Gentil de Farias, Engenheiro de Pesca
Prof. Dr. Giovanni Lemos de Mello, Engenheiro de Aquicultura
Prof. Dr. Jorge Luiz Rodrigues Filho, Biólogo
Prof. Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano, Zootecnista
aquicultura.pesca@gmail.com