A coluna desta semana traz um alerta de pesquisadores aos problemas relacionados à poluição dos estuários e praias, e suas consequências nos peixes que vivem nestes ecossistemas. Em um artigo publicado recentemente em uma importante revista internacional (ICES Journal of Marine Science), pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC/Laguna) avaliaram que dentre os itens alimentares encontrados nos estômagos da Pescada Amarela, os mais frequente eram fragmentos de plástico (cerca de 64% da frequência de ocorrência). Estudos anteriores já haviam demonstrado elevada contaminação por fragmentos de plástico nas Carapebas, Cangoá e nos Bagres Amarelo e Branco.
Estudos em todo o mundo têm apontado para a necessidade de uma melhor gestão dos resíduos sólidos para que o seu destino final não sejam as praias e os oceanos, mas essa realidade ainda parece estar distante. O aumento do turismo na alta estação, o crescimento urbano nas regiões litorâneas, além da má gestão da atividade pesqueira, tornam a gestão dos resíduos sólidos um grande desafio. Os resíduos sólidos chegam nos ambientes marinhos através dos rios, estuários, praias, ou são lançados de barcos e navios, e uma vez nos mares são denominados “lixo marinho”. Muitas espécies de tartarugas marinhas, mamíferos marinhos e até aves já sofrem com esse tipo de poluente, se alimentando de plástico, que muitas vezes causam a morte dos animais. Esses lixos marinhos, que chegam ao ambiente na forma de copos descartáveis, sacolas plásticas, ou nos mais variados tipos de embalagens, sofrem processos de fragmentação que vão diminuindo o seu tamanho, deixando partículas menores diretamente disponíveis para serem ingeridas.
As consequências tóxicas da ingestão de plástico pelos peixes ainda não são totalmente conhecidas, mas estudos já apontam que o acumulo de plástico nos estômagos de animais pode causar uma falsa sensação de saciedade, fazendo com que o animal se alimente cada vez menos. Mas independendo dos impactos diretos ou indiretos desse tipo de contaminação, a solução do problema está nas mãos dos gestores públicos, em direcionar esforços para uma gestão eficiente dos resíduos sólidos, e também em “nossas mãos”, pois precisamos repensar a nossa forma de consumo e de como descartamos o que não é mais necessário, para que o “lixo marinho” não vire um “pseudo-alimento” para os peixes e demais organismos aquáticos.
Por: Prof. Dr. David Valença Dantas, Engenheiro de Pesca