Participamos na última semana da Feira Nacional do Camarão, realizada em Fortaleza (CE). Estávamos em três professores da UDESC/Laguna prestigiando o evento, o qual encontra-se em sua 13ª edição.
Há pouco tempo atrás, noticiamos em primeira mão nesta coluna do JL o tamanho da problemática ligada ao vírus da síndrome da mancha branca nas fazendas cearenses, as quais respondem por 60% da produção nacional. De fato, semana passada podemos constatar in loco que a situação atual da produção de camarões no Ceará é bastante crítica.
A crise da carcinicultura brasileira é tão expressiva que atualmente este crustáceo está praticamente racionado no País. Sorte de quem ainda está conseguindo comer camarão marinho regularmente. Veja, caro leitor, como já somos dependentes da aquicultura.
Entretanto a FENACAM, tampouco os simpósios técnico-científicos ligados a este evento, estavam em clima de velório. Pelo contrário! Presenciamos uma das feiras mais animadas desde sua primeira edição em 2004. E essa animação toda tem um motivo: o setor já sabe para onde tem que caminhar. A luz no fim do túnel já é nítida para o setor produtivo.
É preciso investir em sistemas intensivos de produção, pelo menos, nas fases de berçário (camarões até 1-2 g). Nunca se viu uma FENACAM com tantos stands de empresas que comercializam estufas, geomembranas, compressores de ar, mangueiras de aeração, aditivos, suplementos, probióticos, etc. Quem participava das primeiras edições do evento, com destaque principalmente para as várias empresas de ração e laboratórios, hoje se assusta com a diversidade de produtos e serviços oferecidos aos produtores.
A carcinicultura brasileira está entrando em uma nova fase, de muito investimento em tecnologia, controle total dos processos de produção, medições diversas, automação, equipamentos para todo lado, etc. Esqueça investir R$ 50.000,00 por hectare de fazenda (como era em Laguna há 15 anos atrás). Agora é preciso investir até R$ 2 milhões pelo mesmo hectare. Entretanto, fazendo algumas contas rápidas, você despesca 90 toneladas nesta área e tem uma receita bruta de R$ 1,8 milhões logo no primeiro ano. Para algumas empresas, como a CAMANOR, estes números inclusive já estão ficando bem para trás. Hoje a empresa do RN já produz em seu sistema intensivo denominado de “Aqua Science” 56 toneladas/ha/ciclo e, a partir de 2017, produzirá 70 ton/ha/ciclo. Através de ciclos múltiplos de produção, a CAMANOR chegará em 2017 a 344 toneladas por hectare/ano de produção.
Além das novas tecnologias, a água de cultivo e os próprios animais cultivados têm cada vez maior atenção e cuidados. A ração não é mais o único insumo importante no processo produtivo.
Uma pena o Brasil ter esperado tanto tempo para de fato encontrar soluções concretas para a questão da mancha branca no cultivo dos camarões marinhos. Pena também SC não ter tido fôlego nem apoio efetivo para o enfrentamento da enfermidade. A boa notícia é que a região Nordeste vai dar a volta por cima e que parte dos novos modelos de produção podem seguramente serem aplicados na região Sul do Brasil.
Por Giovanni Lemos de Mello