Se o governo ofende o povo, este tem direito de evocar a filha-indignação e de não lhe dar paz, mas nas ruas e praças exigir a sua saída, pois é acusado de crimes de corrupção e é fruto de um golpe e por isso carece de legitimidade.
A filha-coragem se mostra na vontade de mudanças, não obstante os enfrentamentos que poderão ser calorosos. É ela que nos mantem animados, nos sustenta na luta e pode nos levar à vitória. Importa seguir o conselho do Quixote: “no hay que aceptar las derrotas sin antes dar todas las batallas”.
Há um dado que devemos sempre tomar em conta: a realidade não é apenas o que está aí à nossa mão como fato. O real é mais que o factual. O real esconde dentro dele virtualidades e possibilidade escondidas que podem ser tiradas para fora torná-las fatos novos.
Uma destas possibilidades é evocar o primeiro artigo da constituição que reza: “todo o poder emana do povo”. Governantes e políticos são apenas delegados do povo. Quando estes atraiçoam, não representam mais os interesses gerais mas os das empresas financiadoras de suas eleições, o povo tem direito de tirá-los do poder mediante eleições diretas já.
O “fora Temer e diretas já” não é mais o slogan de grupos mas das grandes multidões. A filha-coragem deve exigir, por direito, esta opção, a única que garantirá autoridade e credibilidade a um governo, capaz de nos tirar da presente crise.
As duas filhas da esperança, a indignação e a coragem, poderão fazer sua a frase de A. Camus: “Em meio ao inverno, aprendi que bem dentro de mim, morava um verão invencível”.