Seguramente não estou enganado se disser aquilo que está passando na cabeça das pessoas e se ouve por todas as partes: assim como está, o Brasil não pode continuar. A corrupção generalizada, porque foi naturalizada, contaminou todas as instâncias públicas e privadas. A política apodreceu. A maioria dos parlamentares não representa o povo, mas os interesses das empresas e dos grupos que financiaram suas campanhas eleitorais. São velhistas, perpetuando a política tradicional das coligações espúrias, das negociatas e dos conchavos a céu aberto.
O atual presidente não mostra nenhuma grandeza, pois não pensa no povo e nas graves consequências de suas medidas sociais, mas em sua biografia. Entrará seguramente na história. Mas como o presidente das anti-reformas, o presidente ilegítimo do anti-povo que desmantelou os poucos avanços sociais que beneficiavam as grandes maiorias sempre maltratadas. Sua passagem pela Noruega nos envergonhou a todos.
O projeto dos que deram o golpe parlamentar é do mais radical neoliberalismo, em crise no mundo inteiro, que se expressa pelas aceleradas privatizações e pelo atrelamento do Brasil ao projeto-mundo para o qual o povo e os pobres são estorvo e peso morto. Esta maldição eles não merecem. Lutaremos para que haja ainda um mínimo de compaixão e de humanidade que sempre faltou por parte dos herdeiros da Casa Grande.
Estamos num voo cego em um avião sem piloto. Há poucos que ousam apresentar um novo sonho para o Brasil. Mas tenho para mim, que o cientista político, de sólida formação acadêmica, Luiz Gonzaga de Sousa Lima, o tentou com seu livro A refundação do Brasil: rumo a uma sociedade biocentrada (Rima, São Carlos 2011). Infelizmente até agora não recebeu o reconhecimento que merece. Mas aí se vislumbra uma visão atualizada com o discurso da nova cosmologia, da ecologia e contra o pensamento único, refletindo as alternativas para um outro mundo possível.
Permito-me resumir seu instigante pensamento que o expus, com mais detalhes, neste Jornal do Brasil em maio de 2012.