Em função das próximas eleições municipais, faz-se mais uma reflexão sobre a relevância da fé cristã face à política, seja social, seja partidária.
A fé não é um ato ao lado de outros. Mas é uma atitude que engloba todos os atos, toda a pessoa, o sentimento, a inteligência, a vontade e as opções de vida. E uma experiência originária de encontro com o Mistério que chamamos Deus vivo e com Jesus ressuscitado. Esse encontro muda a vida e a forma de ver todas as coisas. Pela atitude de fé vemos que tudo está ligado e religado a Deus, como Aquele Pai/Mãe que tudo criou, tudo acompanha e tudo atrai para que todos possam viver com espírito fraterno, com cuidado de uns para com outros e da natureza; Esse amor social constitui a mensagem central da nova encíclica do Papa Francisco Fratelli tutti. A fé não é só boa para a eternidade mas também para este mundo.
Neste sentido, a fé engloba também a política com P maiúsculo (política social) e com p minúsculo (política partidária). Sempre se pode perguntar: em que medida a política, seja social, seja partidária, é instrumento para a realização dos bens do Reino como o amor social, a fraternidade sem fronteiras, a justiça pessoal e social, a solidariedade e a tolerância; em que medida a política cria as condições para as pessoas abrirem-se à cooperação e não se entredevorarem pela competição mas à comunhão uns com os outros e com Deus. Essa é chamada pela recente encíclica do Papa Francisco Fratelli tutti “a Política Melhor” que inclui o coração e até a ternura e a gentileza como de forma surpreendente vem dito lá.
A fé como uma bicicleta
A fé não fica apenas como experiência pessoal de encontro com Deus e com Cristo no Espírito. Ela se traduz concretamente na vida. Ela é como uma bicicleta, possui duas rodas mediante as quais se torna concreta: a roda da religião e a roda da política.
A roda da religião se realiza pela meditação, pela oração, pelas celebrações, pela leitura da Bíblia, também a popular, pelas romarias, pelos sacramentos, numa palavra, pelo culto.
Muitos reduzem a religião somente a essa roda. Especialmente as redes de tv católicas. Essas são, geralmente, de um cristianismo meramente devocional, de missas, santos, rosários e de ética familiar. Quase nunca se fala de justiça social, do drama dos milhões de desempregados, do grito dos oprimidos e do grito da Terra. Neste campo precisa-se de um compromisso, de assumir um lado, para escapar do cinismo face à realidade com tantas iniquidades. Por esse tipo de cristianismo fica difícil entender por que Jesus foi preso, torturado, julgado e condenado à morte de cruz. Esse tipo de cristianismo é cômodo. Jesus teria morrido de velho e cercado de seguidores.