A Terra sentiu os golpes e não deixou de reagir: pelo aquecimento global, pelos tsunamis, pelos eventos extremos, pelas longas estiagens ou as prolongadas nevascas, pelos degelos e pelo caos climático.
A reação, verdadeira represália da Terra, vem pelos vírus (existem cerca de 200 mil) cada vez mais frequentes e violentos, como o zika, a chicungunya, o ebola, o SARS, a gripe suína e aviária e outros. Eles estavam tranquilos em seus habitats. Mas o desmatamento feroz, a erosão da biodiversidade e urbanização crescente do planeta, a criação industrial de animais, fizeram com que perdessen seus hábitats e buscassem outros, passando de animais aos seres humanos. Eles não vivem por si; precisam de células hospedeiras para se reproduzir. Assim é com o atual coronavírus.
A hipótese que proponho é que, neste momento, os papéis se inverteram. Sendo um superorganismo vivo, a Terra reage, contra-ataca e faz a sua revanche contra a Humanidade, pois como diz o Papa na sua encíclica ecológica “nunca maltratamos e ferimos a nossa Casa Comum como nos últimos dois séculos” (n,53).
Agora, irada. Gaia brada: “Basta! Sou mãe generosa, mas tenho limites vitais intransponíveis. Preciso dar severas lições a esses meus filhos e filhas rebeldes e violentos. E se não aprenderam a interpretar os sinais que lhes enviei e não me respeitarem e cuidarem como sua Mãe, posso não mais querê-los sobre meu solo”.
Penso que o Covid-19 é um desses sinais, ainda não o derradeiro, mas o suficiente letal a ponto de abalar os fundamentos do nosso tipo de civilização. Biólogos temem que podemos ser vítimas do assim chamado Next Big One (NBO), aquele último tão letal e inatacável, capaz de pôr fim à espécie humana.
O coronavírus nos lança um alerta. Como disse o sociólogo e ecólogo Bellamy Fosters da Universidade de Oregon: “A sociedade terá que ser reconstituída sobre uma base radicalmente nova. A escolha que temos diante de nós é nua e crua: a ruína ou a revolução”.
Na mesma linha de pensamento afirma a física nuclear e ecologista indiana Vandana Shiva: “Um pequeno vírus pode nos ajudar a dar um grande passo à frente para fundar uma nova civilização planetária ecologista, baseada na harmonia com a natueza. Ou, então, podemos continuar vivendo a fantasia do domínio sobre o planeta e continuar avançando até a próxima pandemia. E, por último, até a extinção. A Terra seguirá, conosco ou sem nós”.
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