Gente de nossa terra

Agenor dos Santos Bessa

★18/12/1908
✝13/03/1994

A vida é um campo imaculado, que pode vicejar ou manter-se estéril na extensão de nossa vontade. Viver intensamente é um privilégio de poucos, uma arte verdadeiramente dita, pois artistas são aqueles que ultrapassam as barreiras do cotidinao para reinterpretar a vida, as pessoas, as coisas, oferecendo à humanidade maiores luzes e perspectivas. Agenor dos Santos Bessa, filho augusto da Laguna, artista, jornalista, pai, companheiro e amigo, viveu como se deveria viver, com sonhos, conquistas e amor acima de tudo. O compromisso pessoal e irrenunciável com a cultura pautou toda sua vida. Além do hábito diário da leitura e o namoro com a poesia, Agenor tinha na música sua grande fonte de inspiração e força de vontade. Impossível pensar-se nele sem nos vir à lembrança os acordes da querida Banda União dos Artistas, à qual dedicou, como maestro e mestre, nada menos do que sessenta anos de sua vida! Agenor foi uma pessoa de bom coração, generoso e acessível a qualquer um que lhe dirigisse a palavra. Quando jovem, viveu intensamente a antiga boemia, aquela alegria e vivacidade, hoje quase esquecidas em nossas ruas. Pessoa de espírito bem elevado, desprendido do apelo pelos bens materiais, ele cultivava amizades pelo valor individual das pessoas, não por suas posses. Sua sensibilidade aguçada pela música se traduzia em modo de viver. Em casa, além de música clássica, só se escutava o canto dos pássaros, cuidadosamente distribuídos por gaiolas penduradas pelos quatro cantos de sua residência. A vida familiar não destoava de seu comportamento geral, compreensivo e amigo. Sabia tratar bem as crianças, com carinho especial para as netas, fonte de inspiração para versos saudosos! Sua força de vontade marcou toda uma geração de meninos pobres, que desde cedo foram ensinados ou, talvez melhor dizendo, seduzidos a tomar gosto pela música. Conhecedor de vários instrumentos, como clarinete, violino, violão, piano e acordeon, dentre outros, exerceu, como professor de música, um papel fundamental na preservação da cultura em Laguna e em todo o sul de Santa Catarina, ao conduzir a Banda União dos Artistas em inúmeras apresentações, algumas antológicas e mesmo heróicas para quem as vivenciou. Os obstáculos de toda ordem e a falta de recursos financeiros não o impediram de erguer o edifício que passou a sediar a banda, instituição centenária pela qual deu tanto de si. Imperdoável seria deixar de registrar sua atuação jornalística. Privilegiado por ter uma memória fantástica e amparado por um estilo de escrita desenvolto e por uma sólida qualidade de redação, aproveitou-se destes para escrever inúmeras e ininterruptas crônicas semanais para o jornal O Renovador, na coluna “Memórias de um Boêmio”. Além da descrição inteligente do cotidiano de sua cidade, escrevia com orgulho textos patrióticos sobre episódios do passado de Laguna, alguns dos quais vivenciados em primeira pessoa. Ante o antigo adágio de que um homem somente se completa ao plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro, acreditava ter cumprido o seu dever, pois muito foi ligado à natureza, descreveu a evolução viva de sua Laguna em centenas de crônicas e poesias, além de haver adotado uma menina e lhe proporcionado, ademais de uma formação profissional digna, a base de caráter que não se aprende em nenhuma escola. Ao final de sua vida, já com 85 anos, quando a fadiga do corpo lhe limitava os movimentos, voltava-se para a música como principal passatempo, chama que jamais se apagou até seus últimos dias. Ele era casado com dona Enide Miranda Bessa, já falecida. Agenor dos Santos Bessa faleceu em 13 de março de 1994.

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