Aquicultura e Pesca

Aquicultura & Pesca

Peixe com salada!!!

A coluna dessa semana traz à tona uma importante inovação tecnológica nos cultivos que vêm ganhando cada vez mais adeptos no Brasil e no mundo: a integração de peixes ou crustáceos com hortaliças, também chamada de Aquaponia.Mas por que pensar na Aquaponia? Uma das respostas é bem simples: o bolso e a segurança do produtor. Explicando: os ganhos nos cultivos convencionais estão muitas vezes atrelado a valores fixos de mercado. Além disso, o sucesso nos cultivos está diretamente relacionado ao desempenho produtivo e ao não aparecimento de surtos de doenças. Sendo assim, se o produtor diversifi car sua produção, passa a ser uma estratégia interessante para escapar das pequenas margens de lucro dos monocultivos, da inviabilidade causada por um eventual mal desempenho produtivo ou doença, além de escapar das oscilações de mercado. Aí entra a Aquaponia, diversifi cando e oferecendo produtos com alto valor agregado (peixes e plantas), livres de agrotóxicos e outros insumos que podem prejudicar a saúde humana.Mas afi nal, o que é a Aquaponia? A Aquaponia é um sistema de produção agroalimentar que integra a aquicultura (cultivo de organismos aquáticos) com a hidroponia (cultivo de plantas terrestres sem a utilização do solo, onde as raízes estão imersas em uma solução nutritiva balanceada). Neste sistema existe uma relação estabelecida entre organismos aquáticos cultivados (geralmente peixes), microrganismos aquáticos (bactérias) e plantas, onde os nutrientes residuais do cultivo dos peixes são transformados pelas bactérias em produtos absorvíveis pelas plantas, que em conjunto com a luz e uma correta oxigenação das raízes, favorecem o desenvolvimento dos vegetais. Como resultados, produtos saudáveis com ciclos de produção muitas vezes mais rápidos que os cultivos convencionais. Onde surgiu a Aquaponia? Especula-se que a Aquaponia surgiu cerca de 1000 a.C. no centro do México, praticada pelos Astecas. Este povo utilizava lagos como meio de cultivo para produzir plantas terrestres. Eles construíram jangadas com material flutuante, como cana e junco, cobriram com terra dragada do fundo do lago e plantaram suas hortaliças. As plantas cresciam nessas ilhas flutuantes à medida que suas raízes se expandiam e alcançavam a água. Atualmente, este sistema encontra-se em diversos países com destaque para os Estados Unidos, Austrália, México, Chile, Canadá e Emirados Árabes Unidos.Mas por que a Aquaponia não deslanchou no Brasil? Em nosso país é praticamente nula a aquaponia comercial. Este fato pode ser atrelado a diversos fatores, como por exemplo, a desinformação, a falta de dados técnicos-econômicos sobre o sistema (principalmente a nível comercial), aos relativos altos custos iniciais de implementação, entre outros.  No entanto existem exemplos de sucesso em países não distantes e de aspectos político-econômicos relativamente similares ao Brasil como é o caso do Chile e do México.No município de Laguna temos algum exemplo de Aquaponia? Sim, no início de 2013 por meio de um projeto de pesquisa, foi iniciada uma série de estudos em pequena escala no Laboratório de Aquicultura (LAQ), pertencente ao curso de Engenharia de Pesca da UDESC, no campus Laguna. Hoje, já foram realizados diversos ciclos de produção com diferentes espécies de peixes e hortaliças, com destaque para as tilápias e pacu, além de plantas como alface (diversos), tomates, temperos como salsinha e cebolinha e até fl ores. Paralelamente, a Escola de Educaç ã o Bá sica Gregó rio Manoel de Bem, no Ribeirão Pequeno, em parceria com a UDESC, implementou um pequeno sistema aquapônico possibilitando a produção de alimentos saudáveis com educação ambiental.E quais as perspectivas desse sistema? Dentro do contexto atual onde enfrentamos uma grave crise hídrica, geográfica e populacional, a necessidade de alternativas para satisfazer a demanda de alimentos é eminente. Por essas e outras razões a aquaponia vem experimentando uma expansão generalizada pelo mundo. Regiões brasileiras como o nordeste, e mais recentemente o sul e sudeste, poderão claramente se beneficiar deste tipo de sistema. Além disso, a diversifi cação e o rápido giro fi nanceiro, atrelado aos preços mais altos de venda devido ao valor agregado dos produtos, chamam cada vez mais a atenção dos produtores. É a “salada” invadindo o território dos peixes onde todos ganham!

Aquaponia em Laguna Aquaponia de pequena escala na escola parceira da UDESC Gregório Manoel de Bem, localizada no Ribeirão Pequeno.

Por:

Prof. Dr. Eduardo Guilherme Gentil de Farias,

Engenheiro de Pesca Prof. Dr. Giovanni Lemos de Mello,

Engenheiro de Aquicultura Prof. Dr. Jorge Luiz Rodrigues Filho,

Biólogo Prof. Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano,

Zootecnista aquicultura.pesca@gmail.com

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