Anita Garibaldi, a guerreira que abriu caminho para as mulheres brasileiras nos livros de História. Confira parte do texto:
Com texto de Lais Modelli, de São Paulo, a BBC Brasil semana passada destacou a nossa Anita Garibaldi, cuja morte completou a 167 anos n no último dia 4, afirmando que ela foi uma das poucas mulheres a conseguir despontar em um universo majoritariamente masculino: as páginas dos livros didáticos sobre a história brasileira.
Um dos motivos, apontam pesquisadores, é o fato de sua trajetória fugir – e muito – do esperado para as mulheres de sua época.
Em pleno século 19, Anita escolheu não ter filhos ao se casar pela primeira vez, se separou do marido para se juntar às tropas dos Farrapos e se tornou, com seu companheiro Giuseppe Garibaldi, uma heroína revolucionária não só no país, mas também na Itália.
“Além de atuar na Revolução Farroupilha, no sul do Brasil, e em lutas no Uruguai, Anita também teve importante atuação nas guerras da unificação italiana junto a Garibaldi, que foi reconhecido como o maior herói daquele país”, conta Cristina Scheibe Wolff, historiadora da Universidade Federal de Santa Catarina.
“Ela se destacou em um campo que não era visto como possível para as mulheres: a guerra revolucionária.”
Segundo a pesquisadora, uma das autoras do livro Nova História das Mulheres no Brasil (Editora Contexto), o país teve diversas personagens importantes como Anita Garibaldi, mas que acabaram não tendo a mesma “sorte” dela.
O fato de a revolucionária ter sido uma exceção, aponta, é obra de um homem: o próprio marido, que sempre a incluiu em suas memórias.
“O que sabemos sobre Anita veio principalmente das memórias do Garibaldi, que demonstrava uma grande admiração por ela. De certa forma, a fama de Anita é decorrente da vida longa de Garibaldi, que ainda em vida foi reconhecido como herói e fez questão de dividir esse lugar com a memória da mulher.”
As mulheres e os livros escolares
Segundo a pesquisadora, a ausência de mais personagens como Anita nos livros escolares brasileiros se deve à demora destes em incorporar estudos mais recentes.
“É somente a partir dos anos 1980 e, com mais força nos anos 2000, que temos uma produção mais significativa sobre a história das mulheres. Infelizmente, essa produção muitas vezes se dá de forma um pouco distanciada, como uma história a parte, nem sempre reconhecida por todas as correntes historiográficas.”
Para ela, a ação de setores conservadores também tem parcela da culpa. “Recentemente, a bancada conservadora da Câmara de Deputados e setores ligados a igrejas forçaram a retirada do termo ‘gênero’ dos planos nacional, estaduais e municipais de educação”, exemplifica.
“Acontece que a história das mulheres na escola é importantíssima para que meninos e meninas percebam a importância da igualdade de gênero, desfaçam preconceitos e vivam de forma mais igualitária suas relações sociais com respeito à diversidade.”
‘Heroína de dois mundos’
Ana Maria de Jesus Ribeiro, nasceu em 30 de agosto de 1821 em Laguna, – foi a terceira de uma família humilde de dez filhos.
Aos 14 anos, foi obrigada pela mãe a se casar com um sapateiro muito mais velho. Segundo outra versão, o casamento ocorreu porque a menina havia sido violentada.
Ainda adolescente, adotou costumes considerados avançados para as mulheres da época: se recusou a ter filhos, cavalgava e se interessava pela política do Brasil Império.
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