Para Gracinha
A quinta-feira do dia 27 de junho de 1968 foi o dia mais feliz da minha vida.
Tive muitos outros dias muito felizes, mas este, foi o mais feliz de todos.
Às dez horas da manhã eu estava casando na Igreja Matriz de Santo Antônio dos Anjos da Laguna, com aquela que Deus me destinara para ser a mulher de toda minha vida.
A multissecular igreja estava lotada de pessoas e havia muita gente na frente do templo, quando cheguei.
Eu e minha noiva éramos professores e algumas turmas de alunos haviam sido liberados para o acontecimento. Havia realmente uma multidão na igreja Matriz de Santo Antônio dos Anjos.
Entrei acompanhado por minha mãe e fiquei ansiosamente ao lado dela, trêmulo, aguardando a entrada triunfal da noiva. Quando a divisei pelo corredor central da nave, jamais imaginara que ela pudesse ficar mais deslumbrante do que normalmente parecia.
Não sei o que eu sentia mais, se aquele deslumbramento, ou mais paixão, ou mais amor ou tudo junto num ramalhete só.
Até hoje lembro-me vividamente daquele momento e estou convencido que jamais uma noiva tão linda passou por aquele corredor e diante daquele altar.
Lá se vão 50 anos.
Ela tinha 20 anos e eu, 26.
O correr destes anos nos trouxe quatro filhos e seis netos, mas a vida também nos cobrou o desaparecimento de outras pessoas queridas, como costuma fazer em seu afã de sempre se renovar.
Sempre estivemos juntos em todos os momentos, nos de riso e nos de lágrima, no gozo e na dor, nas necessidades e na fartura.
Nossa vida não foi uma estrada plana e sem cansaço, mas ascendente e surpreendente a cada passo e cada mudança.
Nós dois nos fizemos um ao outro, aos poucos e na convivência. Tenho que confessar que ela me reconstruiu melhor do que quando me recebeu.
Tudo aquilo que conquistamos foi somente com o sonho de nossas mentes e o trabalho de nossas mãos. Jamais precisamos galgar algum progresso na vida, que não fosse mediante o estudo, o labor e nosso esforço.
As estradas verdadeiras nunca são sem surpresas. Tivemos percalços, contrariedades, arranhões e tombos, mas nada que nos parasse a caminhada sempre de mãos dadas.
Quando olhamos para trás e para baixo, lá para o vale de onde partimos, desde o ponto em que nos encontramos hoje, podemos avaliar as situações que nos aconteceram. Todas as coisas boas, por mais simples que fossem, recebemos com muita alegria e sempre foram para nós, motivo de celebração.
Todas as coisas difíceis, resolvemos com amparo mútuo, muita esperança, fé e humildade. Também tivemos amigos e uma família esplendorosa.
Nunca almejamos o exagero material nem desejamos ser ricos, além das nossas necessidades.
Nossos quatro filhos são nosso maior tesouro e os filhos deles são nossas maiores bênçãos.
Deus nunca nos faltou em todas as contrariedade e obstáculos que encontramos e, melhor, sempre nos fez mais fortes para resolvê-los.
Estou com 76 anos, continuo apaixonado como há cinquenta anos atrás.
Acho que Deus sempre foi nosso amigo presente a cada instante.
Senão, como explicar esta nossa vida juntos?
Laguna, 27 de junho de 2018.
Márcio José Rodrigues
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