Cultura Laguna

Cavalgada tropeira e os barqueiros de Laguna

Aos 92 anos, a vida de José Ferreira, o José Lino, é o retrato da história da região. Por 70 anos ele foi tropeiro e fazia parte da rota que deu origem a Tubarão. No sábado (24), ele foi homenageado durante o encontro entre cavaleiros e barqueiros. O evento fez parte das comemorações pelo aniversário de 144 anos da Cidade Azul. José Lino é morador de Rio Rufino e de lá ele descia a serra com os diversos produtos. “Eu tinha uma carreta que era puxada pelo cavalo. Em cima da carreta colocava as mercadorias. Levava banana, pinha, maçã, couro, cachaça, entre outras coisas”, conta o antigo tropeiro. Segundo José Lino, as dificuldades eram imensas. “As estradas eram muito ruins. Mas tinha coisas boas também, tinha muitos amigos”, conta. A memória do antigo tropeiro foi reverenciada pelos cavaleiros que saíram de Lages há uma semana e chegaram na sexta-feira (23) à noite a Tubarão, bem como pelos barqueiros que saíram de Laguna e também de Tubarão para acompanhar, pelo rio, a última parte do trajeto dos cavaleiros. Os dois grupos se encontraram, próximo a ponte pênsil da Unisul e seguiram lado a lado, até as pontes Nereu Ramos e Heriberto Hülse, no Centro, já que pelo percurso, os cavaleiros saíram da beira-rio passando para a avenida Marcolino Martins Cabral. Os dois grupos voltaram a se encontrar já na sede do clube Náutico de Tubarão, no bairro Campestre. Foi no pier onde o antigo tropeiro foi homenageado e a prefeita em exercício de Laguna Ivete Scopel, o prefeito da Cidade Azul, Olavio Falchetti, e a vice-prefeita de Rio Rufino Sonia Oselame fizeram a troca simbólica dos produtos. De Laguna foi levado o peixe, o sal, a cachaça e o açúcar. Da Serra veio maçã, pinha, milho, feijão, caqui, kiwi e manga. Os cavaleiros, representados pelo ex-prefeito e historiador Adilcio Cadorin, fizeram um pedido ao prefeito Olavio: a construção de um monumento para lembrar os tropeiros. “Em Tubarão há um belo monumento ao caminhoneiro, e o tropeiro também é muito importante para a história do município e gostaríamos que estes bravos homens tivessem um monumento a sua memória”, explica Cadorin. O prefeito Olavio disse que há sim a possibilidade de construir um monumento. Ele também agradeceu o empenho dos cavaleiros e a disponibilidade dos barqueiros, bem como o apoio recebido dos clubes, Corpo de Bombeiros e Marinha do Brasil que acompanharam o evento. “Temos que saber honrar a nossa história que teve a contribuição dos tropeiros e dos barqueiros”, afirma Olavio. Entenda a história – Há nove anos, a Ordem dos Cavaleiros de Santa Catarina realiza a “Cavalgada pelo Picadão da Serra”. Um grupo de cavaleiros sai de Lages em direção a Laguna, recordando o trajeto que era feito pelos tropeiros no século 18. Ao descer a serra, eles traziam os produtos típicos daquela região e em Laguna, os trocavam pelas mercadorias produzidas no litoral. Para descansar, um dos pontos escolhidos era a região do Poço Fundo do Rio Tubarão. E foi ao redor desta área que o município de Tubarão se desenvolveu. Segundo o historiador lagunense e ex-prefeito Adílcio Cadorin, a possibilidade de utilizar o porto de Laguna para facilitar o transporte dos produtos como charque, couro, sebo, entre outros, é que fez surgir o povoado de Tubarão. “Para diminuir as distâncias, em 1771, Correia Pinto, o fundador de Lages, propôs à Câmara de Laguna para que as duas vilas unissem esforços abrindo uma estrada, ligando o planalto ao litoral, permitindo que, através do Porto de Laguna, Lages tivesse ligação marítima com os centros consumidores da Colônia e da Europa. Em virtude da demora da Câmara de Laguna aderir a sua proposta, Correia Pinto contratou as suas expensas um grupo de homens especialmente escolhidos para a abertura do que inicialmente se denominou como ‘O Caminho’, que na verdade era uma difícil trilha, principalmente no trecho da Serra, onde muitas vezes os tropeiros viam despencarem penhasco abaixo o gado e mulas carregadas de mercadorias que conduziam. Daí decorreu a designação pejorativa utilizada pelos tropeiros que este não era um caminho, mas um “picadão”, o Picadão da Serra”, relata o historiador. Este escambo de mercadoria foi relembrado neste sábado, no encontro entre os cavaleiros e os barqueiros.

 

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