Douglas Junior

(co)lecionar

Lecionar é atividade de quem se permite ser escolhido pela vocação docente. Assim mesmo, se é escolhido e não se escolhe ser professor(a). Sempre ouço minha mãe dizer que lecionou Artes, em vez de dizer que foi professora ou que deu aulas, e isso sempre me impressionou, pois lecionar é um verbo encantador. Vem do latim lectio, da raiz legere, que significa escolha, eleição, leitura ou texto lido. A princípio, se tratava de uma leitura para si, mas ganhou o sentido de ler em voz alta como parte de uma lição dada a outras pessoas. Legere também pode significar, de modo mais abrangente, juntar ou recolher coisas, para organizar, conectar, dar sentido, ou seja, é atividade de professor(a). Hoje, quem leciona costuma solicitar, em meio às suas aulas, que estudantes “dêem um Google”, “busquem tal coisa na internet”, “Digitem tal palavra mais tal palavra”, tentando estabelecer relações e gerar aprendizado. É praticamente inimaginável que, há algum tempo atrás, quando algum professor solicitava um trabalho de pesquisa, a principal fonte (ainda) eram as enciclopédias impressas, principalmente, as de bibliotecas públicas municipais ou de bibliotecas particulares, como era o meu caso, que podia consultar a Delta Larousse de meu pai, o qual sempre declara seu orgulho por ter sido, quando jovem, um vendedor de enciclopédia “de porta em porta”. O acervo de nosso (co)lecionador/projetista Wolfgang Ludwig Rau também conta com uma enciclopédia Delta Larousse, edição de 1973 e, considerando que ele era europeu, de idioma alemão, é possível imaginá-lo buscando verbetes equivalentes ou sinônimos para poder escrever tantos livros, como fez durante sua vida. Com a enciclopédia de Rau em mãos, tive curiosidade em buscar a palavra “lecionar”. Só encontrei o verbete lecionário. Já no dicionário Caldas Aulete, que costumava ser vendido em conjunto com a enciclopédia, encontrei os significados de lecionar: ensinar ou dar lições, explicar em modo de lição. Na atualidade, com tanta tecnologia disponível, há os que arriscam renomear quem leciona com palavras como facilitador, mediador ou mentor, mas os desafios docentes continuam exigindo as mesmas habilidades no fazer pedagógico. Muitas vezes, o cotidiano da Educação constrói um profissional acanhado, contido; outras vezes ativo, inovador; às vezes acomodado, conformado; às vezes revoltado, insatisfeito. No entanto, professor(a) de verdade jamais abandona a sala de aula, seja qual for a circunstância, e sempre está disponível para retomá-la, quando se faz necessário. E o que é sala de aula, para um(a) professor(a)? É qualquer lugar. É a rua. É um mundo de descobertas, em que não há o ser bom, mas sim, o ser que, na escola, se dedica a manter o entusiasmo de crianças e jovens ou que, na universidade, se dedica para ensino, extensão, pesquisa e gestão, ou seja, a dedicação é a única medida de seu trabalho. Mesmo que a rotina de provações impostas possa lhe tirar um pouco do brio profissional, sempre deve ser alguém que preserva e restaura seu encantamento com a Educação, que vê em cada ser humano infinitas possibilidades de construção de um mundo melhor, que coleciona vivências com seus estudantes. Especialmente, no Gabinete Museológico Rau da Udesc Laguna, se percebe que (co)lecionar é um modo de eternizar sabedoria e experiência, de deixar legados para futuras gerações. Pelo dia 15/10, VIVA A QUEM LECIONA!

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