É comum que pais se sintam frustrados e confusos ao lidar com o comportamento desafiador de seus filhos. Explosões de raiva, birras e a recusa em seguir regras podem levar ao esgotamento emocional, especialmente para aqueles que tentam equilibrar o trabalho, as responsabilidades diárias e a educação dos filhos. Muitos pais de crianças com comportamentos desafiadores se perguntam: “Onde estou errando?” ou “Será que não sou firme o suficiente?”. A verdade é que o comportamento infantil é complexo, e abordagens punitivas costumam agravar a situação em vez de resolvê-la.
A neurociência oferece uma perspectiva fundamental: o cérebro das crianças ainda está em desenvolvimento, especialmente as áreas responsáveis pelo controle de impulsos e pela regulação das emoções. Isso significa que muitas vezes as crianças não agem mal por escolha consciente, mas porque ainda estão aprendendo a lidar com suas emoções e a entender o mundo ao seu redor. O cérebro ainda não está maduro. É aqui que a disciplina positiva entra como uma ferramenta poderosa.
O que é disciplina positiva?
Disciplina positiva é uma abordagem baseada no respeito mútuo e na compreensão das necessidades emocionais da criança. Em vez de focar em punições, a disciplina positiva incentiva os pais a estabelecerem limites claros com empatia, ajudando a criança a desenvolver autocontrole e habilidades sociais sem se sentir envergonhada ou rejeitada.
Dicas práticas para aplicar a disciplina positiva no dia a dia:
1. Conecte-se antes de corrigir: Crianças precisam se sentir ouvidas e compreendidas. Antes de corrigir um comportamento, tente entender o que está por trás dele. Muitas vezes, a criança está frustrada, cansada ou confusa. Acolher esses sentimentos com empatia pode evitar muitos conflitos.
2. Seja consistente nos limites: As crianças precisam de consistência para se sentirem seguras. Quando os limites mudam o tempo todo, elas ficam inseguras e podem testar ainda mais os pais. Defina regras claras e cumpra-as com firmeza, mas sem agressividade.
3. Use consequências lógicas, não punições: Em vez de castigos punitivos, que muitas vezes não ensinam nada à criança, ofereça consequências que façam sentido. Por exemplo, se seu filho desenha na parede, uma consequência lógica seria envolvê-lo na limpeza. Isso ensina responsabilidade sem causar ressentimento.
4. Reconheça e elogie o comportamento positivo: Muitas vezes, damos mais atenção ao que está errado do que ao que está certo. Um simples elogio ao comportamento positivo pode reforçar a autoestima e motivar a criança a continuar agindo de forma adequada.
5. Dê alternativas ao “não”: O “não” constante pode desmotivar e irritar as crianças. Quando possível, ofereça alternativas positivas. Por exemplo, em vez de dizer “Não corra dentro de casa”, diga “Você pode correr lá fora”. Isso mantém o controle da situação e ensina autocontrole sem ser negativo.
6. Ensine habilidades emocionais: Ajude seu filho a reconhecer e nomear suas emoções. Crianças que entendem o que estão sentindo têm mais facilidade em lidar com seus sentimentos de maneira apropriada. Ferramentas como “quebrar o gelo” ou “respirar fundo” são úteis para ajudar a regular as emoções.
7. Seja o exemplo: As crianças aprendem observando os pais. Se você lida com o estresse de maneira calma e racional, seu filho vai aprender a fazer o mesmo. Modelar comportamentos saudáveis é uma das formas mais eficazes de ensinar disciplina.
Por que isso funciona?
A neurociência mostra que as experiências repetidas moldam as conexões cerebrais. Quando os pais respondem com empatia e consistência, ajudam seus filhos a formarem conexões neurais que favorecem o autocontrole, a empatia e a resolução de problemas. Com o tempo, essas respostas saudáveis se tornam naturais para a criança, que aprende a lidar com frustrações e desafios de forma mais eficaz.
A disciplina positiva não significa ser permissivo, mas sim educar com respeito e entendimento das limitações cognitivas e emocionais de uma criança em desenvolvimento. Ao investir em uma abordagem positiva, os pais não só conseguem melhorar o comportamento de seus filhos, como também fortalecem o vínculo familiar, promovendo uma relação de confiança e respeito mútuo.
Os desafios são reais, e o cansaço também, mas com paciência e as ferramentas corretas, é possível guiar os filhos de maneira mais eficaz e amorosa. Para muitos pais, entender que o problema não está em “ser firme o suficiente”, mas em ajustar a abordagem de acordo com as necessidades emocionais da criança, pode ser o primeiro passo para transformar a convivência em casa.
Erika Zanella -Neuropsicopedagoga, Psicopedagoga e Psicanalista.
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