Não sem razão James Lovelock, o formulador da teoria da Terra como um superorganismo vivo que se autoregula, Gaia, escreveu um livro “A vingança de Gaia” (Intrínseca 2006). Estimo que as atuais doenças como a dengue, a chikungunya, a zica virus, sars, ebola, sarampo, o atual coronavirus e a generalizada degradação nas relações humanas, marcadas pela profunda desigualdade/injustiça social e pela falta de solidariedade mínima sejam uma represália de Gaia pelas ofensas que ininterruptamente lhe infligimos. Não diria como J.Lovelock ser “a vingança de Gaia”, pois ela, como Grande Mãe não se vinga, mas nos dá severos sinais de que está doente (tufões, derretimento das calotas polares, secas e inundações etc) e, no limite, pelo fato de não aprendermos a lição, nos faz uma represália como as doenças referidas.
Evoco o livro-testamento de Théodore Monod, talvez o único grande naturalista contemporâneo, já falecido, em seu livro “E se aventura humana vier a falhar” (Paris, Grasset 2000): “Somos capazes de uma conduta insensata e demente; pode-se a partir de agora temer tudo, tudo mesmo, inclusive a aniquilação da raça humana; seria o justo preço de nossas loucuras e de nossas crueldades” (p.246).
Isso não significa que os governos do mundo inteiro, resignados, deixem de combater o coronavirus, proteger as populações e buscar urgentemente uma vacina para enfrentá-lo, não obstante suas constantes mutações. Além de um desastre econômico-financeiro pode significar uma tragédia humana, com um incalculável número de vítimas.
Mas a Terra não se contentará com estes pequenos presentes. Ela suplica uma atitude diferente face a ela: de respeito a seus ritmos e limites, de cuidado por sua sustentabilidade e de sentirmo-nos mais que filhos e filhas da Mãe Terra, mas a própria Terra que sente, pensa, ama, venera e cuida. Assim como nós cuidamos, devemos cuidar dela. Ela não precisa de nós. Nós precisamos dela. Ela pode não nos querer mais sobre sua face. E continuará a girar pelo espaço sideral mas sem nós porque fomos ecocidas e geocidas.
Como somos seres de inteligência e amantes da vida, podemos mudar o rumo de nosso destino. Que o Espírito Criador nos fortaleça nesse propósito.
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