Sistemas de produção
Uma das características marcantes da piscicultura brasileira é sua estruturação em pequenas propriedades. Mais de 50% da produção vêm de empreendimentos familiares, com o predomínio da produção em regimes semi-intensivos. Na opinião de especialistas, uma das formas de contribuir para a produção comercial de peixes em larga escala é o apoio por meio de políticas públicas voltadas à capacitação técnica, atendimento à legislação ambiental, acesso ao crédito e a organização em cooperativas ou associações. Já para os pequenos piscicultores, a única saída para conseguir escala de produção, negociar com fornecedores e conquistar o mercado está na sua organização.
No regime intensivo, no qual geralmente está inserida a piscicultura industrial, há somente uma espécie de peixe sendo cultivada em altas densidades. Criações de peixes nesse regime, porém, ainda são relativamente raras, embora seja o sistema em que o País apresenta maior potencial de crescimento. Atualmente, o cultivo de tilápias em tanques-rede é o exemplo mais claro de um regime intensivo de produção empregado no País. Tais cultivos são realizados principalmente em grandes reservatórios da União, como aqueles do rio São Francisco, na região Nordeste, e do rio Tietê, na região Sudeste. O desenvolvimento da piscicultura industrial também abre possibilidades de integração ou associação dos produtores familiares aos grandes empreendimentos. Pode-se dizer que o desenvolvimento da piscicultura industrial no Brasil também é muito importante para o sucesso da piscicultura familiar. Em um país com graves carências de serviço de extensão rural, os grandes empreendimentos têm condições de desenvolver tecnologias e estudos, a exemplo do que ocorre na avicultura, podendo repassar esse conhecimento aos pequenos produtores.
Problemas e perspectivas
Apesar das boas perspectivas de novos investimentos na piscicultura brasileira, seguem informações sobre alguns entraves que precisam ser minimizados nos próximos anos. Destacamos a dificuldade de regularização das pisciculturas, o restrito acesso ao sistema de crédito e a falta de capacitação técnica dos produtores. As dificuldades para regularização das pisciculturas estão ligadas à dificuldade de acesso ao crédito, pois as instituições financeiras não concedem crédito a empreendimentos que não possuem licenciamento ambiental. A complexa legislação exige do piscicultor a obtenção de registros, licenças, outorgas, cessões, que são processos, na maioria das vezes, onerosos e complexos, forçando o produtor a operar na ilegalidade. Essa é uma questão complexa, pois envolve uma gestão multi-institucional entre o MPA, o IBAMA, a Marinha, a Agência Nacional de Águas, a Secretaria de Patrimônio da União, além dos órgãos ambientais estaduais. Com a recente criação do MPA, são esperadas medidas que sejam implementadas ainda este ano e que tragam benefícios no curto prazo.
No âmbito da capacitação técnica, temos, de um lado, um universo imenso de mão de obra familiar e produtores pouco ou nada qualificados e um serviço público de extensão rural sucateado. De outro, um grande contingente de profissionais bem qualificados saindo das universidades e de cursos profissionalizantes, ávidos por uma oportunidade para mostrar suas capacidades. Estabelecer políticas públicas voltadas à integração desses dois universos é um dos caminhos mais promissores para o desenvolvimento da atividade.
Apesar de lentas, algumas mudanças significativas ocorreram nas últimas duas décadas na área da piscicultura, sendo possível prever para os próximos anos excelentes oportunidades de negócios. O setor produtivo deve se organizar e orientar as políticas públicas de acordo com as suas necessidades para um crescimento sustentável. A perspectiva é de atração crescente de novos investimentos à medida que a cadeia produtiva da piscicultura melhore seu nível de estruturação.
**Por Paulo César Falanghe Carneiro – Graduado em Engenharia Agronômica pela USP, Mestre em Aquicultura e Doutor em Zootecnia pela UNESP. Fez treinamentos em piscicultura em Auburn University-AL (USA) e no Institute of Marine Biology do National Research Council (Halifax, Canada). Foi professor da PUCPR e UFPR em Curitiba-PR; atualmente é pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros e professor da Universidade Federal de Sergipe, em Aracaju-SE. É bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq e tem experiência na área de piscicultura continental desde 1992, atuando principalmente em reprodução e criopreservação de sêmen de peixes.
Fonte:http://www.portaldoagronegocio.com.br/artigo/criacao-de-peixes-pode-ser-uma-boa-alternativa-de-negocio