A coluna desta semana destaca o uso de biotecnologias para quebrar paradigmas nos cultivos de camarões marinhos. Você leitor já imaginou cultivos totalmente “amigos do ambiente”, onde a troca da água é praticamente nula, e de quebra você tem altas produções em uma pequena área de cultivo? E ainda, nesta água, que pode ser reutilizada por diversos ciclos, as doenças praticamente não se manifestam e ainda ocorre economia com o alimento(rações) do camarão? Pois esta é a tecnologia de “Bioflocos” que vem ganhando cada vez mais adeptos mundo afora e no Brasil também. O cultivo de camarões marinhos, em geral, é caracterizado por uma produção semi-intensiva, onde os produtores renovam constantemente a água para manter a qualidade da mesma e garantir um bom ambiente de cultivo para os crustáceos. Além disso, a densidade de estocagem é baixa, auxiliando níveis seguros de oxigênio no ambiente de cultivo. Até aí tudo bem. No entanto, se o ambiente de cultivo já apresenta histórico de doenças, este “antigo protocolo”, atrelado ao mal manejo, cedo ou tarde, tende ao fracasso. É comum a desinformação por parte de produtores, e erros persistem em ocorrer. Os vetores de doenças (e consequentemente as doenças) já estão naturalmente presentes nos ambientes onde a água é coletada. Este fato, associado a um “estresse” (seja ele por conta das baixas temperaturas do estado, deficiência nutricional, entre outros fatores), torna-se o “gatilho” para manifestação das enfermidades. Assim, a pergunta que emerge é: “então os cultivos de camarões não são mais possíveis em nossa região? Sim, são possíveis. Graças a tecnologia!Se nas criações de frangos, suínos e gado todos em algum momento já foram afetados por doenças e “deram a volta por cima”, por que o cultivo de camarões na nossa região isso seria diferente? Por que ficaríamos “emperrados” no tempo? E para tal, podemos seguir o exemplo de outros países tais como Tailândia, Indonésia, México e Equador, entre outros, que já foram afetados por doenças, como a mancha branca, e resolveram investir em tecnologia e capacitação. E uma alternativa dessa tecnologia é o sistema de bioflocos. Esta técnica permite cultivos intensivos com produções, em média, acima de 2 kg por metro quadrado versus as antigas 300 gramas/m2 dos cultivos tradicionais. Ou seja, mais de seis vezes as produtividades anteriores! Além disso ocorre um ambiente muito mais estável para os animais por meio de trocas de água mínimas ou nulas durante todo o período de cultivo. Adicionalmente, neste sistema é fomentado o crescimento de microrganismos “benéficos” através de um balanço de nutrientes. Assim, atrelado a uma intensa aeração, é formado os agregados ou “bioflocos”. Estes microrganismos desempenham três papéis fundamentais: 1) a manutenção da qualidade da água e um ambiente mais equilibrado; 2) servem de alimento aos camarões e 3) diminuem ou anulam a manifestação de doenças. Vale ressaltar que como todo sistema produtivo, o cultivo em bioflocos apresenta suas vantagens e desvantagens. Como vantagens, permite a produção em altas densidades em pequenas áreas de cultivo (uma fazenda de 10 hectares do modelo tradicional que produzia em média 30 toneladas de camarão em um ciclo, agora necessitaria de um hectare ou menos para obter as mesmas produções!), trocas zero ou mínimas de água, possibilita a redução da proteína da dieta, minimiza os impactos ambientais, agrega valor ao produto devido ao método produtivo “mais amigável ao meio ambiente”, possibilita o cultivo (até mesmo de peixes) em regiões mais frias durante todo o ano (uso de estufas) e contribui para a biossegurança do ambiente de criação. Como desvantagens: apresenta um relativo alto custo inicial de implementação, demanda energética mais elevada e necessidade de capacitação de pessoal e treinamentos (pois toda tecnologia nova, necessita de gente capacitada). O sistema de bioflocos vem crescendo em passos largos no Brasil e no mundo, e a busca pela eficiência produtiva e ambiental é uma das razões deste crescimento.Como tudo na vida, os sistemas de cultivo de camarões evoluíram, basta saber se queremos evoluir também. A tecnologia já está disponível.
Por:
Prof. Dr. Eduardo Guilherme Gentil de Farias, Engenheiro de Pesca
Prof. Dr. Giovanni Lemos de Mello, Engenheiro de Aquicultura
Prof. Dr. Jorge Luiz Rodrigues Filho, Biólogo
Prof. Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano, Zootecnista
aquicultura.pesca@gmail.com