A coluna desta semana evidencia uma atividade emergente no mundo: o cultivo de polvos! Estes animais conhecidos pela sua inteligência e carisma, vem despertando atenção e interesse ao redor do mundo. No Brasil, ele esta pouco presente nas mesas dos brasileiros, mas em várias partes do mundo como Ásia e Europa ele é muito apreciado, principalmente pela alta gastronomia. No entanto, é um recurso que vem diminuindo ao redor do globo. O gênero Octopus inclui aproximadamente 200 espécies, e o Octopusvulgaris é uma das mais importantes espécies em termos de desembarque e valor comercial. A pesca dessa espécie, que já foi maior de 100 mil toneladas anuais, hoje dificilmente chega a 40 mil toneladas devido a sobreexploração, apesar do bom valor de mercado que pode chegar a mais de US$10/kg.
Assim, emerge a dúvida: e o cultivo de polvos do mundo frente a crescente demanda, seria uma realidade ou um futuro distante? Bem, na atualidade ainda é tímida a produção em cativeiro (especula-se menos de 3 mil toneladas ao ano). Os sistemas de cultivos ainda são baseados na captura de juvenis da natureza com cerca de 250-750g e engorda até 1-3kg, em menos de 1 ano aproximadamente. As produtividades chegam a 15kg/m³ em tanques-rede ou gaiolas, mas com exemplos de mais de 40kg/m³ em sistemas fechados indoor em galpões controlados. Como destaque nos cultivos estão a Espanha com o polvo comum, e atualmente o México, que vem desenvolvendo um pacote tecnológico para uma espécie que vem chamando a atenção, o polvo do Golfo do México Octopus maya.
Esta espécie traz uma vantagem enorme frente a outras espécies (como o polvo comum), que é a eclosão dos ovos já na forma de juvenis, sem a fase larvária (um grande gargalo dos cultivos de polvos devido as altas mortalidades). Estes juvenis já são idênticos aos polvos adultos e possuem surpreendentes taxas de crescimento. Uma curiosidade é que as dietas fornecidas nessas fases iniciais são compostas por uma pasta úmida feita a base de siri e colocadas em pequenas conchas, uma espécie de “prato” para os pequenos polvinhos. A Universidade Autônoma do México (UNAM), em seu campus localizado no estado de Yucatán, vem de maneira brilhante desenvolvendo diversos estudos há mais de 8 anos, visando a concretização de um pacote tecnológico para esta espécie. A produção massiva de juvenis já é uma realidade nos Laboratórios da UNAM e diversos outros trabalhos com reprodução, nutrição, manejo de engorda, entre outros, já foram realizados e certamente em pouco tempo teremos cultivos de polvos se espalhando pelo México e quem sabe pelo mundo afora! Seria o Octopus maya uma espécie de “tilápia” para a aquicultura de polvos no mundo? É ver para crer!
Por:
Prof. Dr. Eduardo Guilherme Gentil de Farias, Engenheiro de Pesca
Prof. Dr. Giovanni Lemos de Mello, Engenheiro de Aquicultura
Prof. Dr. Jorge Luiz Rodrigues Filho, Biólogo
Prof. Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano, Zootecnista
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