O título da coluna desta semana, na verdade, representa uma pergunta corriqueira em nossa região. É possível cultivar tainhas nas antigas fazendas de carcinicultura? A resposta, em nossa ótica, é sim, claro que sim!
Entretanto, responder se o cultivo teria viabilidade econômica, não é tão simples. Temos que lembrar das tilápias, produzidas nestes mesmos viveiros entre 2006 e 2013, onde apesar de muito esforço no desenvolvimento de um pacote tecnológico, o preço de mercado inviabilizou este que foi um belíssimo projeto.
Sabe-se que o preço de mercado da tainha também não é tão atrativo, portanto, um sinal de alerta deve ser adicionado à discussão. Contudo, a ideia para Laguna não seria bem produzir as tainhas, mas sim, focar na produção de suas “ovas”. OK, vamos conversar um pouco a respeito.
No caso da piscicultura, a reversão sexual é uma prática comum e ocorre, por exemplo, no cultivo de tilápias, onde todas as larvas são revertidas para macho nos primeiros dias de vida (fase de larvicultura), através da adição de hormônio na ração. Sem a reversão, o produtor teria em seus viveiros 50% de peixes fêmeas e outros 50% de machos. Agora, ele tem apenas machos, que crescem mais que as fêmeas e não se reproduzem.
Para as tainhas, a lógica seria o contrário. É preciso realizar a reversão hormonal para fêmeas, para que todos os peixes cultivados pelo produtor sejam do sexo feminino possam maturar em cativeiro. Maturar, significará desenvolver seus gametas, preparar-se para a “reprodução”, ou seja, as fêmeas produzirão ovócitos, a tão conhecida “ova da tainha”.
Calcular o quanto seria possível produzir não é tão difícil assim. Uma fazenda de 20,0 hectares produzindo 10 toneladas/hectare de tainha, teria uma produção anual de 200 toneladas do peixe. Se todos os peixes fossem fêmeas, e se estes peixes estiverem maduros, quem sabe o produtor conseguiria uma biomassa de “ovas” equivalente a 20 ou 30 toneladas/ano. Este cálculo é baseado no “índice gonadossomático”, uma relação entre o peso das gônadas dos peixes com o seu peso total.
Muitas perguntas ainda precisam ser respondidas até termos a produção de tainhas na região de Laguna. Qual a curva de crescimento da espécie em nossas condições de temperatura? Em um ano, os peixes poderão chegar em 1 (um) quilo (provavelmente não!)? As fêmeas de fato vão maturar nos viveiros? Que ração é preciso fornecer para potencializar a formação das gônadas do animal? Quem produzirá os alevinos (juvenis) da espécie? Qual será o custo destes alevinos? E o custo da ração?
Perguntas como estas devem ser respondidas antes de “novas aventuras” de produtores ou investidores. Infelizmente, o governo brasileiro raramente tem apoiado o desenvolvimento da piscicultura marinha. Pesquisas em universidades e institutos de pesquisa são muito escassas. Participamos na semana anterior do AQUACIÊNCIA 2016, maior congresso científico da área de aquicultura do País. Poucas pesquisas com piscicultura marinha foram apresentadas neste importante congresso.
De fato, o Brasil está desenvolvendo a passos largos sua piscicultura de água doce, mas talvez esteja esquecendo de olhar para o enorme potencial existente nos seus peixes marinhos.
Por:
Prof. Dr. Eduardo Guilherme Gentil de Farias, Engenheiro de Pesca
Prof. Dr. Giovanni Lemos de Mello, Engenheiro de Aquicultura
Prof. Dr. Jorge Luiz Rodrigues Filho, Biólogo
Prof. Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano, Zootecnista
aquicultura.pesca@gmail.com