A gente chega na entrada da cidade e sente o cheiro do mar. Ah a maresia.. ativa infinitas memórias. Eu poderia escrever o Português correto, e dizer, “Nós chegamos na entrada da cidade…”, mas não é sobre vangloriar-me para que as pessoas elogiem o bom português, é sobre saber que quando falamos de Laguna, falamos da nossa terra, da nossa gente. Nada mais correto que usar a gente. A gente da Laguna, que também está gramaticalmente incorreto. Somos de Laguna, mas não, quem nasceu nessa terra sabe que é da Laguna e dela sempre será. Mesmo que você saia da Laguna, a Laguna estará sempre em você. Temos muitos lagunenses, aqueles como eu, que nasceram no Hospital de Caridade Senhor Bom Jesus Passos, um dos orgulhos da nossa cidade. Temos aqueles adotados que chegaram em Laguna com sonhos ou apenas de passagem, e nunca mais foram embora. De onde quer que venham, do seio da nossa cidade ou carregados pelo vento sul, o sentimento é convergente. Um amor por Laguna. Encontrar os conhecidos no centro da cidade, é quase uma regra. Ser criança e brincar no chafariz da pracinha da Igreja, ou pescar peixinhos na areia da Festa de Santo Antônio. Ir à praia e “comer” vento à tarde, mas mesmo assim amar a praia. Maravilhar-se com os botos que pescam com os pescadores no Canal da Barra. Ver a cidade de cima do alto do Morro da Glória. Jogar bocha na praça do Villa ou jogar o futebolzinho no Clube de Campo. Andar de skate na pracinha do Mar Grosso. Surfar nos Molhes. Correr ou caminhar no calçadão. Fazer uma festinha no Iate Clube. Visitar a casa de Anita e admirar a Tomada de Laguna. Andar de bicicleta pelas ruas da cidade. Atravessar os Molhes para comer frutos do mar. Alugar casa no Farol para passar o feriado de páscoa. Pular o carnaval no bloco da Pracinha. Eu poderia fazer listas e listas da experiência que é ser de Laguna, com toda certeza os leitores, ou os seus filhos e netos, já fizeram todas – ou a maioria delas. Em Laguna você é sempre filho ou neto de alguém. Talvez a frase ‘é filho de quem?’ seja a coisa mais lagunense que exista. Já ouvi muito, e pasmem, reproduzo muito. As famílias da cidade, os negócios das famílias da cidade, que passam de geração em geração. Os filhos e netos dos anciãos da cidade empreendendo e construindo novos negócios, criando novas oportunidades. Ficamos felizes quando a cidade evolui, e tem sempre um sentimento de tristeza quando algo na cidade fecha. É como perder um membro da família. O orgulho enraizado na nossa gente é talvez o bem precioso e o pior defeito que temos. O crescimento de Laguna não é sobre construir pontes e pavimentar ruas, o crescimento de Laguna é sobre valorizar a gente da nossa terra e mudar o pensamento das pessoas que vivem nessa terra. Caminhar sobre as lajotas do
Centro e pensar que ali andou Anita Garibaldi: a grandiosidade das pessoas dessa terra é histórica. Conheci vários ícones, e de outros ouvi histórias. Não sou tão velha assim para rebuscar os feitos antigos, também não sou assim tão nova para não reconhecer o quanto as coisas mudaram, e mesmo assim continuam as mesmas. O nosso porto seguro é essa cidade que há 346 anos segue encantando o seu povo e os turistas que por ela passam. A impressão que tenho é esta: A gente espera que Laguna cresça, e muito, mas bem lá no fundo, uma parte de nós, espera que nunca mude.
Por Maíra Assunção Bicca