A pesca em todo o mundo gera renda para uma considerável parcela da população, especialmente nos ambientes costeiros. Afinal, os ecossistemas costeiros, como estuários, recifes de coral, manguezais, prados de capim marinho, marismas, entre outros, são responsáveis por uma grande parte de todos os recursos pesqueiros explorados em todo o mundo. Além disso, são nestes ambientes que uma grande parcela da população mundial reside, e onde os maiores centros urbanos e industriais se desenvolvem. Mas qual a relação dos ecossistemas costeiros com a atividade pesqueira? Bem, a relação é bem direta, pois uma grande parte dos estoques pesqueiros explorados, como peixes, camarões e outros organismos, utilizam esses ecossistemas durante alguma fase do seu ciclo de vida, ou seja, as espécies dependem diretamente desses locais para seu completo desenvolvimento. Espécies utilizam esses ambientes costeiros para a reprodução, para a desova, para o desenvolvimento dos juvenis, e também para buscar alimento e refúgio contra predadores.
Além de toda a importância para a pesca, os ecossistemas costeiros como um todo, também são importantes para outras atividades humanas, como o turismo, moradia, transporte, entre outros, sendo justamente esse mosaico de múltiplos usos que traz à tona uma série de problemas ambientais, que podem influenciar de forma negativa e direta a atividade pesqueira. Dentre os principais impactos que influenciam diretamente a atividade pesqueira podemos destacar a descaracterização e fragmentação de habitats, poluição urbana, industrial e agrícola, que afetam a qualidade da água e a complexidade dos habitats, reduzindo a disponibilidade de locais propícios para o desenvolvimento das espécies. Estudo realizado na América do Sul em 2010 por diversos pesquisadores, e publicado na Journal of Fish Biology, importante revista cientifica da Sociedade Britânica de Pesca, demonstrou que a maior ameaça para os peixes e ecossistemas aquáticos é a degradação ambiental. Mas vale ressaltar que a própria atividade pesqueira também tem a sua parcela de contribuição no processo de degradação, utilizando métodos de captura pouco seletivos, e descartando de maneira irregular o lixo gerado pela atividade. Estudos apontam que uma grande parcela do lixo marinho encontrado em ecossistemas costeiros provém da própria atividade pesqueira. Neste sentido, não adianta procurar e apontar um culpado, pois todos nós temos a nossa parcela de culpa. O que importa agora é unir esforços e direcionar nossa energia para encontrar uma solução que ao menos minimize a degradação dos ecossistemas costeiros, de forma que os múltiplos usos desses importantes sistemas possam acontecer de forma harmoniosa e sustentável.
Prof. Dr. David Valença Dantas, Engenheiro de Pesca.