Esse bom-senso tem faltado, não raro, à Igreja institucional (Papas, bispos e padres), especialmente em questões morais ligadas à sexualidade e à família. Aqui tem se mostrado severa e implacável. Sacrifica as pessoas em sua dor aos princípios abstratos. Rege-se antes pelo poder do que pela misericórdia. E os santos e sábios nos advertem: onde impera o poder, se esvai o amor e desaparece a misericórdia.
Como é diferente com Jesus e com o Papa Francisco. A qualidade principal de Deus, nos diz o Mestre e o repete continuamente o Papa, é a misericórdia. Jesus é contundente: “Sede misericordiosos como vosso Pai celeste é misericordioso”(Lc 6, 36).
O Papa Francisco explica o sentido etimológico da misericórdia: miseris cor dare”: “dar o coração aos míseros”, aos que padecem. Numa fala no Angelus de 6 de abril de 2014 diz com voz alterada: ”Escutai bem: não existe limite algum para a misericórdia divina oferecida a todos”. Pede que a multidão repita com ele: “Não existe limite algum para a misericórdia divina oferecida a todos”.
Dá uma de teólogo ao recordar a concepção de São Tomás de Aquino sobre prática, da misericórdia: é a maior das virtudes “porque cabe-lhe derramar-se para os outros e mais ainda socorre-los em suas debilidades”.
Cheio de misericórdia, face aos riscos da epidemia da zica abre espaço para o uso de anticoncepcionais. Trata-se de salvar vidas: “evitar a gravidez não é um mal absoluto”, disse em sua vista ao México. Durante a pandemia do Covid-19 fez apelos contínuos à solidariedade e ao cuidado, especialmente às crinças e aos anciãos. Gritantes foram seus apelos à paz no conflito bélico da Rússia contra a Ucrânia. Chegou a dizer: “Senhor detenha o braço de Caim. Uma vez detido, cuide dele, pois é nosso irmão”.
Aos novos cardeais diz com todas as palavras: “A Igreja não condena para sempre. O castigo é para esse tempo”. Deus é um mistério de inclusão e de comunhão, jamais de exclusão. A misericórdia é sempre triunfante. Jamais pode perder um filho ou filha que criou com amor (cf. Sab 11,21-24).
Lógico, não se entra de qualquer jeito no Reino da Trindade. Passar-se-á pela clínica purificadora de Deus até as pessoas saírem purificadas.
Tal mensagem é verdadeiramente libertadora. Ela confirma sua exortação apostólica “A alegria do Evangelho”. Tal alegria é oferecida a todos, também aos não cristãos, porque é uma caminho de humanização e de libertação.
Eis o triunfo do bom senso que tanto nos falta neste momento dramático de nossa história, cujo destino está em nossas mãos. O Papa Francisco e Jesus de Nazaré comparecem como inspiradores de bom senso, de misericórdia e de uma radical humanidade. Tais atitudes nos poderão salvar.
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